Sou Natural de Canguçu, RS nascido em 8 de outubro de 1966 – 43 anos.
2.Qual sua relação com o campo, cavalo e a cidade grande?
Durante muito tempo convivi diretamente com a meio rural, trabalhei por muito tempo com cavalos (basicamente na doma) e sempre mantive relação estreita com o campo. Hoje estou indiretamente ligado, não atuo profissionalmente na área mas ainda convivo muito com gente de campo. Não gosto da cidade.
3.Suas referências e influências de vida (música, literatura, pessoas)?
Na Música fui profundamente influenciado por Noel Guarani, hoje são vários os nomes...na literatura gosto de tudo relacionado à história Rio-grandense e a poesia gaucha de uma maneira geral; um livro que me marcou muito se chama Tacuruses, de Serafin J Garcia, que ganhei de presente do Marenco.
No l'importe, m'hija, qu'el pago mermure
y ensucén su nombre los que la cren mala.
¡Más piores son esas que matan sus crías
pa poder asina seguir siendo honradas!
Cuando nasca su hijo, ¡que lo sepan tuitos!:
¡mamará en sus pechos, dormirá en su falda;
será su cachorro nomás, ande quiera,
pues ser madre, m'hija, no es nunca una falta!
Quanto às pessoas...todas aquelas que me ajudaram a clarear a idéia e a solidificar minha ideologia.
4.Como começaste sua relação com a música, com a composição?
Comecei a tocar violão em São Lourenço do Sul com 11 anos...mas entrei no meio musical gaúcho com 16, no tempo dos primeiros festivais, quando a música gaúcha ainda era pouco divulgada (não que hoje seja muito...) junto com o Joca o Negrinho o Fernando fundamos o grupo Ontonte e fomos tentiando os festivais...demorou...mas deu certo. Todos eles hoje são artistas renomados no nosso cenário musical.
5.O que te fez escolher a música/ poesia nativista?
Complicado responder...na verdade não sei...veio ao natural, talvez pelo meio em que vivi.
6.O que te incentiva continuar compondo?
Gosto de fazer isso, me agrada que a nossa música esteja crescendo e sendo valorizada. Acho que isso é o que mais me incentiva, ver a música gaúcha crescer!
7.Como te imaginas daqui a algum tempo dentro cenário musical?
Mesma coisa...não tenho visões futurísticas, vivo o presente.
8.Os sacrifícios que já fizeste pela música/poesia?
Sacrifício nenhum...faço com muito prazer.
9.Te arrependes de ter feito algo ou não ter feito pela música/poesia?
Na verdade não...acho que o que estou fazendo é o que posso e o que minhas limitações permitem.
10.Inspirações para compor? Tens algum ritual que te ajuda a compor?
Não...componho somente quando a letra me obriga a compor, não consigo fazer música encomendada...se não me agrada muito não sai nada, em compensação se me agrada, faço no instante que recebo, em qualquer lugar...
11.Tem alguma música que gostaria de ter feito e não fez, e o que fizeste e tens um carinho especial? Quantos e quais CDs já lançados?
Sim, Funeral de Coxilha do Serginho e do Marenco eu queria ter feito...que baita obra!
Tenho carinho por todas que fiz, mas uma das últimas, “Não era prá ser”, que não pude ir defender no Reponte e o Lisandro “matou a pau”, me arrepia até hoje, acho que por ter sido um fato acontecido com minha filha quando tinha 1 ano e pouco...não sei direito mas é especial demais; letra do Márcio e do Helvinho que fizeram quando contei o episódio. E o presente do Gujo e do Camargo “Os olhos do meu cavalo"... bhá muito boa! (as duas estão no Saludo).
São 4 trabalhos, “Mais pampa...menos povo” foi o primeiro, depois veio o “Marca” (ao vivo) depois, junto com o Márcio Corrêa, fizemos “Se indo pro campo” e agora “Saludo”
12.O que almeja que sua música/poesia alcance?
Gostaria que ela fosse mais escutada, tenho muito cuidado em escolher o que canto e normalmente são composições mais introspectivas isso dificulta um pouco, mas acho que devagar ela vai alcançando o seu espaço.
13.O que tem ouvido mais nos últimos tempos?
Pouca coisa...acompanho o trabalho dos amigos e não dispenso o folclore nunca...ultimamente Amalia de La Veja...bueníssima!!!
14.Show que foste - livros que têm lido?
Bhá....Show tá difícil de ir...normalmente só assisto os do Joca! Li nas últimas viagens todos do Dan Brown, me agradei!
15.Como vês a influência da música da região do Prata na música nativista? E fala um pouco da tua intimidade com essa música ?
Vejo altamente positiva para consolidar a música Rio-grandense, precisamos desse embasamento e da riqueza poética e musical para, como vem acontecendo, cada vez mais elevarmos o nível poético-musical da nossa região. O Rio Grande hoje possui sua própria linguagem e bate de frente com os países vizinhos, somos fruto de uma miscigenação e absorvemos tudo o que fala das nossas coisas, assim se deu com o chamamé, a milonga e certamente acontecerá com outros ritmos. Hoje existe o chamamé gaúcho, a milonga Rio-grandense, é a nossa maneira de tocar esses ritmos, isso deve ser respeitado e valorizado.
16.Conciliar carreira de poeta/músico com outra carreira?
Hoje, impossível.
17. Como foi tomar a decisão de deixar outro trabalho e fazer parte do grupo do Joca Martins, está gostando, fala um pouco da nova fase? Dá para conciliar shows e festivais?
Foi tranqüilo, estou gostando muito e a “Família Chucro Ofício” é especial!
O Joca conduz a sua carreira com muito cuidado e seriedade e isso nos dá segurança e credibilidade perante o público.
Quanto aos festivais, não é muito fácil...tem que se quadrar muita coisa...sorte de cair um show no festival e um do grupo ser jurado...ai dá prá tentar mandar música e ir, fora isso fica muito difícil. Não dá pra se compromissar com uma música e chegar uma semana antes e aparecer um show, este é o meu trabalho e vem em primeiro lugar, o festival depende de muita coisa mas sempre que posso vou, gosto muito do encontro, de compartilhar outras coisas, do assado no domingo, de ver a obra dos colegas, de ver o público vibrando com a música gaúcha!
18. Como encaras esse meio ao mesmo tempo aberto, democrático, mas também bastante criticado por certa impressão de “panelas” dos festivais? Premiações e ajudas de custo?
Não me incomodo com isso...Ajuda de custo o nome já diz...não precisa explicar, o problema é viver de festivais...ai tu tem que ir e ganhar se não, fica complicado.
Premiação é bom sempre...além dos pilas ela te impulsiona na mídia.
Quanto às “panelas”...se eu componho contigo, certamente é porque gosto da maneira que tu escreve, correto? Muito bem se tu manda uma letra para um festival que sou jurado ela certamente vai cair no meu gosto e poderá passar em uma triagem...isso é lógica. Não podemos confundir panela com gosto. Não mando música para festivais onde os jurados tem uma preferência musical muito distinta da minha...não vou passar nunca...e não posso dizer que é panela. É simples.
19.Vencer o bairrismo é algo que inevitavelmente, acontecerá...ou achas que não existe essa diferenciação de estados? Acreditas que algum dia a música mais trabalhada (gaúcha/nativista) alcance um respaldo maior dentro do cenário musical brasileiro?
Ué...já está acontecendo isso, Santa Catarina é um exemplo vivo e constante, não só consome como produz música regional, Paraná é outro, temos muitos shows por lá...isso vai acontecer na medida em que a nossa música for exposta, ela tem qualidade e respaldo para alcançar muita coisa, precisamos de tempo para que as pessoas conheçam mais...por exemplo: se chega a dar um “acauso” em que uma música de boa qualidade caia num rede de emissora nacional como, por exemplo, tema de um determinado personagem de uma mini-série ou novela ou sei lá o que...pode escrever que a coisa vai andar diferente. O que não pode é acontecer isso com uma música de baixa qualidade...ai se foi a gata com a cinta.
20.Quais festivais para ti foram mais especiais, qual ainda quer participar?
Acho que o Reponte e o Martim Feirão foram especiais pra mim....ainda quero participar de vários... Me agrado muito da Sapecada em Lages...na verdade quero ir a muitos!
21.O que pensas sobre a realização de festivais fechados, achas que seria possível fazer um festival apenas de música nativista instrumental, que pensas sobre isso?
Acho muito bom...é um laboratório, normalmente saem composições de fundamento nestes eventos. Festival de música instrumental é valido sim...seria uma maneira de impulsionar a musica instrumental, ela é riquíssima no estado e tem pouco alcance.
22.Como é a sua relação com os outros músicos de SC e RS?
Olha...não posso me queixar, consegui uma coisa que prá mim é muito importante, não tenho nenhuma relação ruim com nenhum músico, convivo, respeito todos e sinto que isso é recíproco. Me considero hoje como um músico que pode transitar livremente por qualquer lugar e sei que serei bem recebido.
23.Como é para ti saber que sua música ganha fronteiras além do RS?
Muito gratificante...
24.Como lida com o assédio que vem naturalmente como resposta ao trabalho que desenvolve? Como é tua relação com os fãs? O que mudou nesses últimos 5anos (data da entrevista anterior)?
Segue o mesmo baile!!! Bem mais conhecido hoje pelo trabalho que venho desenvolvendo com o Joca. Quanto ao “assédio”, tento tratar todos com o maior carinho possível, acho isso fundamental, e nunca tive problemas em relação a isso, sei separar as coisas...
25.Viver de música : utopia ou realidade?
Para mim...Realidade! 26.Qual é a melhor coisa do ambiente dos palcos, dos festivais, rodeios...?
Certamente o contato com as outras pessoas.
28.Como vês a divulgação que é feita das músicas em geral, dos festivais? Rádios, gravadoras?
Infelizmente fraca. Gravadoras nem comento....os festivais ficam limitados pois não comercializam os discos, e as rádios...as que tem alcance não dão a mínima...as pequenas ajudam...mas de uma maneira geral....fraquíssimo!
29.Em linhas gerais como avalia a tua imagem e responsabilidade sendo uma pessoa pública e voz para sentimentos de muitas pessoas?
É com o que mais me preocupo...mas penso que estou no caminho certo.
30.A ânsia andarilha faz parte desse mundo festivaleiro, que pensas sobre isso; estar sempre na estrada? Como fica o coração nesse caminho? A família? Os filhos já andam se aventurando no mundo artístico também?
Essa é a parte braba da coisa, sou muito caseiro e pouco andarilho...corpo na estrada e coração nas casa...isso me judia um pouco mas tem suas compensações...acredito que se não estivesse com pessoas muito especiais já tinha repunado o caldo!
A gurizada ta indo devagar...o Vinicius é muito musical...já toca um pouco de baixo e violão, o Felipe é consumidor ávido, 24 horas escutando alguma música, já ta cantando alguma coisa é do tipo que não vive sem música gaúcha. E a Helena no que fizer vai dar certo, canta, dança, toca...mas não forcejo muito...eles estão indo com as próprias pernas, apenas disponibilizo o material.
31.Acreditas que a música feita hoje sobreviverá à voracidade e volatilidade do mundo de hoje, resistindo e sendo lembrada daqui a algum tempo?
Sem dúvida!
33.Que times torces, comidas, bebidas?
Bãi...futebol não é comigo...não sei absolutamente nada...não gosto mesmo, parece que vai ter copa do mundo por agora...
Prá comer, carne, carne e um pouquinho de carne. (sou carnívoro ao extremo... é difícil me pegar com arroz e feijão passo tranquilamente 3 dias comendo só carne).
Bebida...canha temperada me agrada...cerveja tomo mas não sou muito fã, vinho quanto mais barato mais eu gosto...não sei tomar vinho, os que me dizem que são bom eu não gosto...e os que me dizem que são ruins eu normalmente gosto mais...sei lá...)
34.O que te faz sentir de alma lavada?
Hoje...sustentar a minha família com a música gaúcha!
35.O que te faz sentir-se mal?!
Discussões e brigas por motivos fúteis. (normalmente a culpa é minha)
36.Fala um pouquinho da tua vida fora dos palcos?
Casa! Adoro a minha casa e a minha família..., trabalho bastante com arte gráfica e computação, adoro juntar os amigos prá uma bóia, o Felipe tem a égua dele aqui pertinho...seguido to me aventurando na lagoa com um barquinho a vela, eu e a patroa, sou meio aquático, gosto de tudo relacionado a água, tanto que quando sai de fora morei na cidade por dois anos e disparei pro Laranjal, uma mistura de praia com cidade do interior e campo ao mesmo tempo...,muito bom!
37.Planos pro futuro?
Nenhum...só penso em viver a minha vida...não gosto de planejar nada...sou o dia de hoje não o de amanhã.
38.Mensagem para as pessoas que admiram seu trabalho?
Gracias! Espero continuar mantendo essa admiração por muito tempo!
39.Sua relação com a internet?
hoje não me imagino sem ela...
40.Acreditas na federalização do estados brasileiros?
Olha...isso é meio complicado, teria que fazer um estudo muito complexo para dirigir uma opinião mais concreta, mas talvez fosse melhor...
41.Pra ti como é encarar as grandes polêmicas que assolam o nativismo, as disputas de poder, as rixas nos Ctgs, discussão do que é bom e do que é ruim e como avalia a nova geração de músicos e compositores que vêm por aí?
Já entrei em muita rusga neste cenário...e a coisa parou onde eu achei que ia parar...o que não tem raiz qualquer vento fraco derruba...as vezes acho que dão muita importância pra pouca coisa e nenhuma importância pra o que tem que dar...só acho que tem muito entendedor que não entende é nada....estão no meio só pelo status...ai é brabo, mas há muito que não esquento a minha cabeça com essas picuinhas...quanto aos músicos, melhoraram sensivelmente em pouco tempo, hoje temos um lote de excelentes músicos e intérpretes nos festivais e grupos....quanto aos poetas a coisa é diferente...no meu entender a música ultrapassou a poesia léguas de distância...precisamos de gente que escreva com fundamento, não que não tenha, mas tem pouco...hoje o índio pega uma caneta e sai mandando letra prá tudo o que é lado, não é assim...
42.Como vês a relação da música nativista com as rusgas das entidades tradicionalistas ?
Acho que a nossa música tá fora dessa peleia...
43. Fala um pouco da tua experiência como jurado, e da triagem aberta?
Já tenho alguma experiência em júri de festival, Reponte, Martim Fierro...bueno, sempre é complicado pois tu ta julgando arte, então sigo o meu gosto...a que eu gostar mais quero que ganhe, só isso. Quanto à triagem aberta, é bom pelo lado de quebrar aquela idéia de que “nem escutam as músicas”, “só vai passar o fulano e o beltrano...” fiz a triagem da Sapecada e conclui que perdemos a metade do tempo escutando trabalhos que eu não escutaria...por exemplo, se pego uma letra que tenha um erro grave ou uma barbaridade qualquer...pode ser a 5ª sinfonia de Bethovem que não vai passar e não adianta, ai tu escuta e todos chegam a mesma conclusão que eu já cheguei antes de escutar...”é não dá mesmo!”