1. Eliana Lima por Eliana Lima? Poucos e bons amigos. Prioridade é a família. Viagem preferida é para o Sul. Música preferida é a nativista, que faz pensar. Eventos culturais como teatro, festival de música, palestras sobre história, apresentações musicais de qualidade. Livros sobre história regional, história brasileira, romances ambientados no sul do Brasil, lendas e causos serranos. Fazenda da Ferradura nos finais de semana. Prestigiar o que é nosso. Ainda acredito que a educação pode transformar a sociedade. E procuro fazer minha parte.
2. Como é ser filha do Tio Beja, você leva tranquilamente a responsabilidade de seguir as boas referências do seu pai? Digo tomou pra si essa responsabilidade? É uma honra. E me sinto realizada por não estar imitando meu pai, mas sim aplicando aquilo que ele me ensinou a vida inteira, através de ações e exemplos. Ambos trazemos este sentimento de responsabilidade de compartilhar o que sabemos, de agir quando temos condições e deixar o mundo melhor do que o encontramos. São épocas diferentes, mas me parece que as lidas são as mesmas. E como estamos sempre em família, minha realização estará completa se um dia meus filhos mostrarem a mesma inquietação diante da ignorância e a mesma vontade de colocar mãos à obra e compartilhar o que sabem em prol da sociedade em que estiverem inseridos. A preservação do ambiente, da história, das origens, dos valores, é a nossa satisfação.
3.Como nasceu o Corredor de Canto e Poesia? O Corredor de Canto e Poesia foi idealizado por um grupo de amigos, Cassiano Eduardo Pinto, Giancarlo Orsoletta e Ramiro Amorim, a partir de festivais que já aconteciam no Rio Grande do Sul, nestes moldes, como o Festival da Barranca. Como a ideia é fazer uma oficina de criação musical, onde se escolhe um tema e se tem um tempo limitado para desenvolver e apresentar, o ideal era que o encontro fosse realizado numa fazenda. Aí, a convite destes amigos, o Tio Beja passou a fazer parte do grupo, oferecendo a estrutura da Fazenda da Ferradura, onde por cinco anos a família sempre teve orgulho em receber e ver crescer e aflorar a cultura , unindo gerações em torno da música nativista. Hoje a Associação Corredor Cultural Nativista é responsável pela manutenção do festival, que desde 2006 vem acontecendo na Fazenda Santo Antonio, da família Zago. E considero este movimento importantíssimo, um marco no desenvolvimento qualitativo da música serrana. Podemos dizer que hoje nossa música tem uma identidade própria. Sem contar a oportunidade de aprendizado e crescimento profissional na área musical, dando a oportunidade a nossos jovens músicos de participarem como iguais nos maiores festivais nativistas do sul do Brasil.
4.Você poderia comentar um pouco sobre a trajetória das comemorações farroupilhas em Lages, o que você lembra e quando você começou a participar ativamente e depois como coordenadora. Eu lembro de quando era criança, às vezes via na praça algo como um acampamento, pessoas chimarreando, discursos falando da Revolução Farroupilha. Às vezes um grupo ia a cavalo buscar a chama crioula na divisa com o Rio Grande, traziam para a praça, faziam a guarda do fogo. Não lembro que houvesse baile por esse motivo. Anos mais tarde lembro que havia divisão: um CTG fazia algum evento farroupilha, o outro fazia em outro local, mas não como parceiros, e sim como rivais. A comunidade passava torcendo o nariz, sabendo sim do que se tratava, mas em sua ignorância achando tudo uma "grossura".O que lembro de mais negativo foi um ano em que um grupo preparou uma comemoração na rua Correia Pinto, em frente ao Clube 14 e outro grupo comemorou no calçadão, fazendo questão de mostrar que eram comemorações separadas. Pra quê? Acho que foi por essa época que tudo acabou, pelo menos publicamente, a partir daí quando havia alguma comemoração era interna em cada associação, CTG ou entidade, pois as pessoas que conheciam a história sempre procuravam fazer alguma coisa para lembrar. Acompanhei alguns eventos em outras cidades, grandes desfiles de rua, grandes bailes, grandes cavalgadas. Sempre admirei esse respeito que os gaúchos tem por sua história e por seus heróis, mas por gostar de ler e pesquisar, cada vez mais fui ficando indignada com o fato de nós, catarinenses, desconhecermos nossa história, nossos heróis. Então em 2006 um amigo, Ronald Aquino, professor na Uniplac, resolveu fazer no Centro Acadêmico um evento que comemorasse o dia do Gaúcho, 20 de setembro. Convidou o Leduvino Ramos, o Aldo Ramos Martins Neto e eu para darmos uns palpites e ajudá-lo na empreitada. Gostamos tanto que no ano seguinte e no outro estávamos lá de novo, ampliando a programação, reunindo amigos, contando a história, levando para diversos pontos da cidade os artistas, os palestrantes, os voluntários, o chimarrão, as bandeiras, o orgulho de sermos serranos, de termos uma heroína do quilate de Anita Garibaldi, de termos nossos ancestrais lutando como farrapos ou como imperiais, defendendo cada um seu ideal de liberdade, de termos episódios que passaram para a posteridade, como a batalha do Passo Santa Vitória, da identidade lageana dos Bois de Botas e tantas outras histórias. A última edição, em 2010, reforçou a idéia de que a Revolução Farroupilha em Lages é uma história de todos, não só dos tradicionalistas. É uma crença comum entre mim, o seu Leduvino e a Giórgia Bianchini Vaz, que veio agregar sua experiência, de que precisamos contar essa história ao maior número de pessoas possível, principalmente à nova geração. Ninguém gosta do que não conhece. Tivemos a satisfação de contar com o apoio incondicional do poder público e de diversas entidades que confiaram em nós e na finalidade do evento apoiando e fazendo parcerias. E foi maravilhosa a participação dos cavaleiros no evento de abertura, no Parque de Exposições. Entrou pra história!
5.Fala um pouco sobre o Conselho Municipal de Cultura em Lages. Aqui temos um grande incentivador da cultura regional, que é o Gilson Máximo de Oliveira, que desde o início levantou a bandeira, estudou, pesquisou, formalizou tudo de acordo com as orientações do MINC e a parceria da Fundação Cultural de Lages. Não podemos exigir que esses primeiros conselheiros eleitos tenham todas as soluções para a falta de apoio e de conhecimento cultural do município, mas podemos pelo menos torcer que acima de interesses particulares consigam enxergar um futuro de união entre os diversos setores e principalmente, buscar projetos que tenham alcance sobre toda comunidade, visando a educação e o desenvolvimento cultural.
6.Projetos para a comemoração farroupilha desse ano? Tenho a felicidade de informar que a comissão organizadora continua disposta a enfrentar esta maratona que é organizar um evento educativo e cultural para a comunidade e que já estamos sendo abordados por diversas pessoas, nos cobrando a continuidade da ação. Isso é muito gratificante. Assim como é gratificante ver todos os nossos CTG's unidos num mesmo evento. Claro que já temos um projeto, que tende a crescer ano a ano para que seja sustentável, formando um público consciente e trazendo crescimento cultural, educacional, econômico e turístico, por que não? E me parece que já podemos contar com nossos apoiadores de sempre. É só aguardar o lançamento da programação, que vem com inovações, como o desafio aos CTG's de mostrar suas habilidades artísticas de maneira diferente daquela apresentada nas competições de rodeios, porque apesar de a história pertencer a todos, ainda são os CTG's os seus guardiões e estão aptos a ensiná-la de forma lúdica. Assim como a Via Gastronômica ensinou a história através da culinária em 2010. Aguardar e participar!
7. Como você vê o cenário musical na serra catarinense, a sapecada da canção e da serra, as novidades no regulmento esse ano, inscrições online, as músicas disponíveis no site, a ida da sapecada da serra para domingo. Como falei antes, vejo o Corredor de Canto e Poesia como o grande incentivador e fomentador do crescimento musical da serra, aliado ao grande desafio que é chegar ao palco da Sapecada. Surgiram outros festivais na região como a Nevada da Canção, a Sesteada da Canção, a Ronda da Canção... É um orgulho ter músicos lageanos competindo de igual pra igual num festival desse nível. Falar em nível, é falar do mérito das dezenas de voluntários que ano a ano ajudam a recepcionar, organizar e realizar em conjunto com a Prefeitura Municipal um dos festivais mais bem conceituados no sul do Brasil, desde a premiação até a hospitalidade. A tradição não exclui a tecnologia, pelo contrário, ela é um instrumento importante de divulgação e comunicação. Devemos saber de onde viemos e conhecer o caminho moderno que nos leva ao futuro, permitindo perpetuar aquilo que admiramos. Já tivemos um embate alguns anos atrás quando mudaram a Sapecada para domingo, segunda e terça, ao invés de sexta, sábado e domingo, então alguns vão espernear de novo por causa dessa mudança, mas eu e minha família e muitas pessoas que conheço vão à Festa do Pinhão somente nos dias da Sapecada, que é o que realmente traz cultura. Independente do dia da semana.
8. Roteiro turístico caminho das tropas fala um pouco pra nós como funciona e contatos. Hoje funciona só por teimosia da iniciativa privada. Operadores de turismo e fazendeiros que concordam em melhorar a estrutura de suas sedes para receber turistas do mundo todo. Ainda não temos estradas, placas indicativas, guias especializados, pontos turísticos bem equipados, informações turísticas eficientes. De uns 20 anos pra cá, pessoas como Laélio Bianchini e Robério Bianchini viram o potencial turístico da Coxilha Rica e o potencial histórico do Corredor das Tropas e vem trazendo turistas (a cavalo, porque de carro é só pra passar vergonha) do Brasil e da Europa para passar dias cavalgando entre campos e fazendas históricas, aprendendo sobre a história da região, coisa que muitos de nós não conhecemos e estamos aqui, bem pertinho. Algumas vezes com apoio dos órgãos municipais, outras sem apoio nenhum. Mas essa questão de divulgar nossa história através de eventos como a Semana Farroupilha, o Rodeio da Integração Crioula ou mesmo as músicas da Sapecada, vem despertando projetos que logo, logo sairão do papel e trarão turismo e desenvolvimento econômico às comunidades rurais. As pessoas tem que conhecer a história de seus antepassados para poder admirá-la e contá-la aos visitantes. E em outros idiomas. Há muita propaganda em torno da Coxilha Rica, porém, os turistas chegam e encontram o que? Cadê a estrutura de recepção, de roteiro, de visitas guiadas, de vendas de produtos regionais, de apresentação artística cultural e regional? Mas quem duvida do que estou dizendo, pode acessar www.gauchodobrasil.com e www.coxilharica.com.br
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