segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Volmir Coelho

Colaboração de Jonas Ricardo Ribeiro Alves
Bueno só para pontuar, por motivos externos e alheios a minha vontade, está entrevista foi feita em maio passado mas somente agora publicada. Agradeço a paciência por aguardarem a publicação e espero que agora em diante tudo seja bem melhor, 2008 promete ser o ano!
:) Gracias!

01) És natural de onde? Idade?

Natural de Santana do Livramento, 40 anos.

02) Qual sua relação com o campo, cavalo, com a fronteira(região do prata), ainda vivência isso hoje ?

Sou nascido na campanha, criado nela, vim para a cidade para estudar, após sentar praça no quartel, voltei para o campo, no Quinto distrito do Carcávio em Santana do Livramento, onde trabalhei de peão de estância, fazendo todo o serviço de campo, menos doma e esquila, trabalhei como alambrador, e peão de tropa. Minha relação com a fronteira e a melhor possível, pois sou cria dela. Hoje já faz cinco anos que moro na cidade, mas não perdi minha relação com o campo.


03) Suas referências e influências de vida (música, literatura, pessoas)?

Minhas influências musicais são o Cenair Maica, Noel Guarani, Jorge Cafrune, Horácio Guarani. Na litaratura El Gaúcho Martin Fierro.

04) Como começaste sua relação com a música, com a composição?

Comecei a tocar com meu pai, ele foi meu professor aos11 anos de idade, aos 19 anos, fiz minha primeira composição foi “Manhã, mate e Recuerdos”, participei da primeira Penca da Música Nativista não Profissional em Santana do Livramento.

05) O que fez com que tivesse certeza de seguir musicando, o que te fez escolher a música nativista?

Continuei na música para cantar as coisas da nossa terra, escolhi a musica nativista pelas minhas influencias.

06) O que te incentiva continuar?

O que me incentiva em continuar é ver que o trabalho da gente passa uma mensagem boa para o público, saber que eles conseguem absorver algo de nosso trabalho, ao contrário de muitos que querem por guampa em cabeça de cavalo, achando que estão cantando e verdade da nossa cultura.

07) Os sacrifícios que já fizeste pela música?

São tantos...deixar a família em casa, me separar do campo, contar os trocados no bolso que as vezes mal dava para retornar pra casa.

08) Te arrependes de ter feito algo ou não ter feito pela música?

Não me arrependo de nada do que fiz ou deixei de fazer...

09) Inspirações para compor, parcerias do início da carreira e estas agora?

A Sensibilidade de perceber muitas coisas, entre elas a indiferença, a fome, e a exploração e a dor do campo.

10) Tem alguma letra que gostaria de ter feito e não fez, e o que fizeste e tens um carinho especial?

Admiro “O Loco” de Cenair Maica, gostaria de ter feito algo parecido... das que eu fiz tenho um carinho especial por Cativos, que fala sobre a violência em que vivemos em nosso pais. Nós estamos presos, com grades em volta e os marginais estão soltos.

11) O que almeja que seus versos alcancem?

A sensibilidade dos injustos.


12) O que tem ouvido mais nos últimos tempos?

Jorge Cafrune (Yupanqui por Cafrune), Mercedes Sosa, Zé Ramalho, Horácio Guarani

13) Show que foste - livros que têm lido?

Jairo Lambari Fernandes, livros, Sobre a Luz das Velas do Martin César Gonçalves; “Operação cavalo de Tróia”- JUAN JOSE BENITEZ.

14) Como vês a influência da música da região do Prata na música nativista, em especial Livramento/Rivera, como a música daí se reflete em todo o estado do RS e fora dele?

A maior influência está nos ritmos, mas nós da fronteira temos o privilégio de estar próximo a esta cultura.

15) Festivais, primeiro festival composição e parceria?

Primeiro Festival foi “Serra e Fronteira’ em Cacequi , a composição “Ofício de Ginete”, letra e música minha. Primeiro festival que eu fui e a minha música mais premiada, 1º lugar, mais popular, melhor letra, arranjo, e melhor instrumentista.

16) Como encaras esse meio ao mesmo tempo aberto, democrático, mas também bastante criticado por certa impressão de “panelas” dos festivais? Como vês o rumo que as coisas tomaram hoje em dia, tua participação no Um Canto para Martin Fierro.

Eu encaro na verdade como um corredor cheio de pedras, que hay que saber anda-lo. Não sei se existe panela, porque nunca participei dela, se é que existe...
A minha participação no Martin Fierro foi algo que ficara marcado para sempre em minha vida, por que os momentos bons como aquele nunca se esquece, ainda mais na terra da gente.

17) Fala um pouco da tua experiência nessa trajetória dos festivais? Triagens, premiações?

Participo dos festivais há 15 anos por ai, mas efetivamente há 5 anos, quando vim para cidade, fui jurado em alguns festivais como Reculuta, Gauderiada. Fui premiado na Reculuta, Reponte, Gauderiada, Minuano, Um Canto para Martin Fierro, Tropeada do Canto e do Verso Sulino, Serra e Fronteira.

18) Vencer o bairrismo é algo que inevitavelmente, acontecerá...ou achas que não existe essa diferenciação de estados? Acreditas que algum dia a música mais trabalhada (gaúcha/nativista) alcance um respaldo maior dentro do cenário musical brasileiro?

Acredito que a música tendo boa qualidade, não existe barreira.

19) Como lida com as críticas, e ao mesmo tempo ser espelho para outros autores?

Encaro a crítica como uma maneira de crescimento no geral, não só na música .Não sei se sirvo de espelho para outros.

20) Como é a sua relação com os outros músicos de SC e RS?

Respeito todos eles, porque somos todos aves do mesmo bando.

21) Como é pra ti saber que os seus ganham fronteiras além do RS?

É muito bom, alguém tem que abrir a porteira para outros cruzarem.

22) Como lida com o assédio que vem naturalmente como resposta ao trabalho que desenvolve? Como é tua relação com os fãs e com os novos músicos? Como vês o futuro da nossa cultura, atuação dos jovens nativistas nesse resgate e perpetuação da tradição e a tua relação com as crianças (o que sente quando as ouve cantar a tua música)?

Quanto ao assédio me engrandece saber que pessoas admiram meu trabalho, tenho muita admiração e respeito pelo trabalho dos novos músicos. Só em saber que vem novos músicos com talento, é a prova de que nossa cultura não morrerá.
Me sensibiliza muito quando se trata de crianças porque elas são verdadeiras, quando as vejo cantarem desmorono por dentro de alegria.

23) Viver de música : utopia ou realidade?

Realidade, temos que acreditar que somos capazes.

25)Como pretendes seguir com a tua carreira, planos pra sair de Livramento?

Buscando sempre aprimorar mais meus trabalhos, quanto a sair de Livramento é algo que vai acontecer naturalmente.

26) Qual é a melhor coisa do ambiente dos palcos, dos festivais, rodeios...?

Amizades que a gente faz, e sentir o carinho e reconhecimento do público com o nosso trabalho.

27) Como vês a divulgação que é feita das músicas em geral, dos festivais? Rádios, gravadoras?

É boa, mas certos festivais ficam muito regionalizados com trabalhos belíssimos em suas edições. Quanto às rádios precisamos delas, pois são elas que lançam o artista.

28) Em linhas gerais como avalia a tua imagem e responsabilidade sendo uma pessoa pública e voz para sentimentos de muitas pessoas?

Quanto a minha imagem sou “loco de feio”...rsrsrsrsrs...mas aprendi não olhar por fora, mas sim o interior do ser humano. Tem pessoas que tem a ânsia de falar e não conseguem e quando escutam o interprete é como se elas mesmas estivessem falando.

29) A ânsia andarilha faz parte desse mundo festivaleiro/artístico , que pensas sobre isso...estar sempre na estrada? Como fica o coração nesse caminho? A família? (Se vais aos festivais, assisti, acompanha-os?)

Sempre gostei da estrada...pois muito se aprende nela. Bate saudade da família, mas o melhor e saber quando se volta alguém nos espera.

30) Acreditas que a música feita hoje sobreviverá à voracidade e volatilidade do mundo de hoje, resistindo e sendo lembrada daqui a algum tempo?

Só o tempo pode te responder...

31) Vais lançar seu primeiro trabalho em CD “DE CAMPO E RAIZ” fala um pouco desse trabalho para nós, composições, parcerias, sairá por gravadora, texto de apresentação?

É o meu primeiro filho...são todas as composições de minha autoria, letras e músicas, foi feito de forma independente, acabei de receber o Cd há dois dias...é um sonho concretizado, saber que o trabalho da gente será ouvido por tantos é algo maravilhoso. Agradeço ao cumpadre e amigo Róbson Garcia, guitarreiro, Zeca Alves (cajon) e a participação especial Aluísio Rockembach (acordeon), os textos são do Zeca Alves, Martin César Gonçalves, Carlinhos Fernandes e Jonas Ribeiro.
Gostaria de fazer um agradecimento especial para meu irmão Gaspar Silva e Cleney Ribeiro, que junto com o Carlinhos Fernandes tornaram este sonho possível, e a minha família, esposa e filhos.

32] Como foi a escolha do repertório? e como foi escolhida e por que a música título do CD?

Eu fui o que menos opinei no repertório, trouxe um pronto para iniciarmos a gravação na segunda-feira, e no domingo a tarde comendo um churrasco junto com o Robson Garcia, Zeca Alves, Jonas e Rita trocamos mais da metade dele...rsrsrsrsrsrsrs.”De Campo e Raiz” por que primeiramente todos nós temos algo “De Campo” embora morando na cidade, e “Raiz” é algo que não perdemos jamais...acho que irão me entender...

33) Acredita numa maior autonomia dos Estados, o sul independente? Como vês a posição das pessoas no sul em relação a política social/econômica diante do país? Mercosul algo que realmente existe?

Sou contra o separatismo...o sul faz parte do universo também, mesmo tendo muita influência da região do prata, somos brasileiros por opção..brigamos por isto. Mercosul existe só no nome.

34)Fala um pouco de Livramento, tua relação com esse chão, a fronteira, o campo...ela dentro do estado do RS?

Tenho uma composição minha que te responde esta pergunta...Santa Santana, que fala assim...
“ser de Santana é mais que ser um fronteiro, é um privilégio parceiro, ser do sul desta nação...”


35) Que times torces, comidas, bebidas?

Sou colorado, Campeão do mundo...Arroz branco, carne frita com molho e feijão...de preferência com um pouco de álcool...rsrsrsrsrsrsrs....

36) O que te faz sentir de alma lavada?

A sinceridade! E o sorriso das minhas filhas Volmaris, Bibiana e Juliana, do meu segmento, Pedro e do amor da minha esposa, Estela Maris.

37) O que te faz sentir-se mal?!

Falsidade...e o mal trato de crianças.

38) Fala um pouquinho da tua vida fora dos palcos?

Normal..gosto de ir pra campanha quando possível.

39) Planos pro futuro?

Só Ele (Deus) responderá...

40) Mensagem para as pessoas que admiram seu trabalho?

A mensagem que deixo é que nunca deixem apodrecer a raiz da nossa cultura.

41) Sua relação com a internet?

Sou “bocão” num rádio AM...rsrsrsrsrs..não tenho relação direta, fico sabendo através de amigos.


42) Contato pra show?
Contatos pelos fones: (51)9929.0115,
.(53)3303.1830 / 9126.8488

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