sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Otávio Severo

Conheça um pouco melhor um dos letristas da nova geração que vem mostrando seu talento nos palcos dos festivais.
Com vocês Otávio Severo!


1.És natural de onde? Idade?
Dom Pedrito, 22

2.Qual sua relação com o campo, cavalo ?
Tenho ligação forte com o campo. Minha família por parte de mãe e pai tem suas raízes no campo, passei todo minha infância e adolescência em contato direto, onde aprendi muito com meu pai e outras pessoas lá do 2° Distrito de Lavras do Sul. Depois perdi o rastro, saí para estudar fora, hoje estou estudando Agronomia em Pelotas, então fica mais difícil o convívio com o campo. Puxei dos “Severos” a paixão pelo cavalo. Quando morava em Dom Pedrito, passava em função com os cavalos, cuidando para exposição, desfile, etc. Hoje meu irmão tem um centro de doma e treinamento em Eldorado onde de vez em quando apareço.

3.Suas referências e influências de vida (música, literatura, pessoas)?
Minha família, os mestres morais que me ensinaram as reais riquezas da vida. Não tive influência musical dentro da família, me agrada escrever, tenho muita admiração em primeiro lugar aos que me ajudaram e estão ao meu lado, e as referências que tenho na música são: Aureliano de Figueiredo Pinto, Edilberto Teixeira e Lauro Antônio Corrêa Simões. Literatura, Ricardo Guiraldes(mestre). Como disse, as referências que estão em primeiro lugar são as pessoas que conheci e conheço, amigos que tenho e estão sempre perto de mim.

4.Como começaste sua relação com a música, com a composição?

Com 14 anos fui estudar em colégio agrícola em São Vicente do Sul, morava em uma pensão junto com uma gurizada, quando no segundo ano em que estava lá, chegou para estudar e morar na pensão o André Oliveira, então eu o via escrevendo, conversávamos sobre letra e daí peguei a fazer uns versos e mostrava pra ele. Hoje é um grande amigo meu.



5.O que fez com que tivesse certeza de seguir a carreira, o que te fez escolher a música nativista?
O contato com o campo foi o princípio de tudo, comecei a escrever a partir desse fundamento. Não considero pra mim uma carreira, faço uns versos por me sentir feliz fazendo isso, com o tempo fui compreendendo a grandeza e a plenitude dessa arte crioula, e quando a gente entende...não para.

6.O que te incentiva continuar?
O que me incentiva continuar é o nosso chão, nossa gente, nossa história. Saber o que há de bom e saber o que realmente merece ser poesia. E há muita coisa boa e merecedora disso.

7.Como te imaginas daqui a algum tempo dentro cenário musical?
Da mesma forma como estou hoje, e os verso do mesmo estilo.

8.Os sacrifícios que já fizeste pela música?
Já fizemos alguma indiada, passei cada fiasco mestre! Até festival já organizamos, eu e o Luís “loco” Bender, pra ter uma idéia eu era o cantor do “espetáculo” de abertura do festival, os prêmios eram: Uma abóbora de pescoço, um saco de batata, um pelego, etc. Bota gauchada! Tem mil histórias... Nada considero sacrifício, tudo é lindo e vale a pena!

9.Te arrependes de ter feito algo ou não ter feito pela música?
Não.

10.Inspirações para compor?
Meu rincão das Lavra, a gente da fronteira, namorada...

11.Tem alguma música que gostaria de ter feito e não fez, e o que fizeste e tens um carinho especial? Uma marca minha, e melodia do Luís Fernando Bender (loco) e do Rainéri Spohr, chamada “Nas Tardes Lindas da Tarumã”, é um pedaço de mim! E tem tantas que gostaria de ter feito...

12.O que almeja que sua música alcance?
Faço verso porque me agrada e me sinto feliz, e feliz me sinto também quando leio algo que me atinge, algo de verdadeiro e com essência, é isso que almejo pros meus versos.

13.O que tem ouvido mais nos últimos tempos?
Coqui Ortiz, Mercedes Sosa.

14.Show que foste que marcou, ou último q foste - livros que têm lido?
Último que assisti foi do José Cláudio Machado, nunca tinha visto, é um “cerno” o home véio!
Estava lendo pela segunda vez o Don Segundo, que é perfeito, antes tinha lido “Quando Nietzsche Chorou” muito bom também, no momento não estou lendo nada.

15.Como vês a influência da música da região do Prata na música nativista?
A influência boa sempre é bem vinda quando bem aproveitada, a grande autenticidade da música do prata nos reflete o mesmo espírito que temos, essa fusão cultural é importante porque nos traz muito ensinamento pra uma cultura relativamente nova musicalmente comparada a esses lugares.

16.Festivais, primeiro festival composição e parcerias?
Sou tropeiro novo na estrada, a primeira marca em festival estadual foi “Pra estes Pingos de Setembro” do 18° Ponche Verde de Dom Pedrito onde ganhamos música mais popular. Depois tive a felicidade de participar de duas Estâncias de São Gabriel, Aldeia da música, Um Canto para Martin Fierro, Flete da Canção, Campo em Canto, Reponte da Canção e agora Sapecada. No último Ponche Verde tivemos a felicidade de ganhar o 1° lugar com a marca”Nas tardes lindas da Tarumã” e ganhamos ainda melhor poesia, melodia e o Rainéri levo melhor intérprete, tava ajeitado!

17.Como encaras esse meio ao mesmo tempo aberto, democrático, mas também bastante criticado por certa impressão de “panelas” dos festivais?
Acho uma perda de tempo ficar batendo boca com esse assunto. É claro que quem recém pegou a escrever, fazer melodia ou cantar vai custar um pouco a passar num festival, o amadurecimento vem com o tempo, com a paciência, todos passam por essas fases.

18.Fala um pouco da tua experiência nessa trajetória dos festivais? Triagens, premiações, como é se ouvir nas rádios, ter contato com o público que te procurar pra dizer que gosta do que você escreve, como você encara isso?
Estou iniciando, mas já tive a felicidade de ter música em festivais renomados do estado e agora fora do estado. Tive algumas premiações que servem como estímulo, é um reconhecimento, mas o grande prêmio pra mim é ver grandes nomes da música nativista vir elogiar o trabalho da gente, dizendo que ta bom e que é pra seguir nesse rumo, esse é o grande troféu.

19.Vencer o bairrismo é algo que inevitavelmente, acontecerá...ou achas que não existe essa diferenciação de estados?
Acreditas que algum dia a música mais trabalhada (gaúcha/nativista) alcance um respaldo maior dentro do cenário musical brasileiro? Para mim o folclore é como o campo: não evolui, o que evolui é o modo como trabalhamos em cima dele. Esse trabalho que vem sendo enriquecido sem nunca perder a essência pode muito bem alcançar lugares diferentes, podendo sim ser reconhecido em certos lugares no Brasil.

20.O que pensas sobre a realização de festivais fechados, achas que seria possível fazer um festival apenas de música nativista instrumental, que pensas sobre isso?
Seria muito bom ter mostras musicais nativistas instrumentais, precisamos disso, e também precisamos de investimentos culturais que hoje estão tão raros no nosso estado.
Como é a sua relação com os outros músicos de SC e RS? De Santa Catarina não tenho relação. Fizemos muita amizade nesses festivais, e as parcerias vão aumentando, em letra tenho parcerias com o Adriano Alves, Osmar Proença e música o Luís Fernando “loco” Bender, Rainéri Spohr, Marcelo Oliveira, Matheus Leal, Cristian Camargo e André Teixeira. Foram esses com quem passei música até agora.

21.Como é pra ti saber que sua música ganha fronteiras além do RS?
Isso é muito bom, porque aumenta a responsabilidade em melhorar cada vez mais, é um compromisso.

22.Viver de música : utopia ou realidade?
Realidade. Hoje precisamos encarar qualquer ramo profissional como uma empresa, existe a necessidade do investimento próprio, esse investimento vem desde a cultura própria, da essência, da influência, da força de vontade, etc. Quem é bom e souber investir em si próprio com certeza vive da música.

23.Qual é a melhor coisa do ambiente dos palcos, dos festivais, rodeios...?
É estar perto dos amigos, assar carne e tomar trago!

24.Como vês a divulgação que é feita das músicas em geral, dos festivais? Rádios, gravadoras?
Melhorou muito a divulgação das músicas de festivais, o que nos faltava era o reconhecimento dos órgãos públicos e que a RBS fosse mais GAÚCHA.

25.Em linhas gerais como avalia a tua imagem e responsabilidade sendo uma pessoa pública e voz para sentimentos de muitas pessoas?
Ainda é cedo para eu enxergar essas coisas. Mas se alguém conhece algum verso meu e se agradar, eu fico muito feliz.

26.A ânsia andarilha faz parte desse mundo festivaleiro, que pensas sobre isso...estar sempre na estrada? Como fica o coração nesse caminho? A família?
De vez em quando se pega uma estrada, alguma vezes não deu para levar a namorada... daí o bicho pega! Mas se aprende muito com a estrada, eu gosto de viajar, e nunca fico fora por muito tempo.

27.Acreditas que a música feita hoje sobreviverá à voracidade e volatilidade do mundo de hoje, resistindo e sendo lembrada daqui a algum tempo?
O que é verdadeiro se eternizará e será lembrado sempre.
Que times torces, comidas, bebidas? Colorado graças a Deus! A bóia campeira é a melhor, de bebida um bom vinho ou uma canha com butiá! Mas no calorão de tarde uma cerveja é sempre bem-vinda!

28.O que te faz sentir de alma lavada?
A justiça feita e ver que existe muitas pessoas no mundo ainda preocupadas com o futuro.

29.O que te faz sentir-se mal?!
Covardia.

30.És parente da Analise e do Leôncio Severo- sabes a origem desse sobrenome?
O sobrenome Severo é originário da Síria, fez parte de Roma, até imperador de Roma um Severo já foi! O Séptimo Severo, depois veio a Dinastia dos Severos, etc. (eram bocão) hehe. Mas os primeiros Severos que chegaram no Brasil vieram de Portugal e da Espanha, as primeiras cidades que se instalaram foram em Rio Pardo e Dom Pedrito. A grande maioria de Severos fica em Dom Pedrito e Bagé. É uma família só, devemos ser parentes longe sim.

31.Planos pro futuro?
Seguir assim, cercado de amigos, família e feliz.

32.Sua relação com a internet?
Me defendo, mas tenho contato direto com internet.

33.Acreditas na federalização do estados brasileiros?
Seria bom se desse certo, mas não tem como.

34.Como vês a relação da música nativista com as rusgas das entidades tradicionalistas ?
Acho que cada um deve cuidar dos seus ideais e no que acredita, não é necessário atacar ninguém para ganhar vantagem. Com o passar do tempo as coisas que realmente tem essência ficarão.

35.Bueno este ano em especial estas concorrendo com duas composições na Sapecada da Canção, fala pra nós um pouco das obras, tua expectativa pro festival, se já conheces algo em SC, e como te sentiste quando soube que elas haviam passado na triagem?
Bah, fiquei muito feliz! Primeiro o Zé Daudt tinha me avisado por msn que eu tinha passado uma, já estava loco de facero, depois o Juliano Moreno me avisou de outra, só completou a felicidade! É um grande estímulo passar em triagem, ainda mais duas e na Sapecada que é um festival que sempre tive vontade de conhecer.
A música Sacrificado, fiz para o meu pai, é subjetiva à isso. E a Cruz e a Tapera, retrata uma tapera que existe lá fora, no 2° de Lavras. Agora estou só na espera pelo festival!

36.Falando em triagem, o que achas da triagem aberta?
Com certeza só tem a ganhar fazer uma triagem transparente como foi na Sapecada, alguns festivais poderiam fazer o mesmo, acabaria com a discordância sobre as músicas.


Abração a todos e Mil Gracias pela oportunidade!
Otávio Severo
Fev. 2008

Um comentário:

JUAREZ MACHADO DE FARIAS disse...

"Nenhum povo é dono do seu destino se antes não é dono de sua cultura."

(José Martí, patriota e escritor cubano)

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Conheci Otávio Severo na edição do Paradouro do Minuano do ano de 2007 que é mais uma oficina lítero-musical inspirada na Barraca (São Borja). Com muita justiça, venceu aquela edição com a letra "Deusa de Cordas". Ali, eu vi um grande poeta. Extrema sensibilidade e um importante substantivo que transparece: HUMILDADE - sublime janela dos evoluídos de espírito e dos que desejam evoluir com mais rapidez. Parabéns ao Otávio pelas respostas inteligentes postas nesta entrevista! O Rio Grande sempre precisará de mais e mais poetas que bebam em águas límpidas como as de Aureliano de Figueiredo Pinto...