sexta-feira, 22 de maio de 2009

Guilherme Collares

Bageense, Mestre Veterinário, cantor, compositor, amadrinhador, poeta, professor, etc etc...

É assim Guilherme Collares, multifacetado que hoje vive a sala de aula e no sentido literal da palavra "mestre", contribui mais ainda com o conhecimento, a arte e a cultura. Acompanhem e conheçam um pouco mais desse ser ímpar fronteiriço.

As fotos postadas aqui foram pegas nos álbuns do orkut de Edinho Bergamo e pescadas nas páginas do google. Esta ao acima é do disco Recuerdos lançado em 2008(produção fotográfica de Alexandre Teixeira), parceria de Guilherme Collares e Edinho Bergamo, pela gravadora Vertical. Na minha humilde opinião um dos melhores Cds do ano, sem dúvida.

1.És natural de onde? Idade?
Bagé, RS. Tenho 36 anos.Lançamento CD no Galpão Nativo.

2.Qual sua relação com o campo, cavalo e a cidade grande?
Me criei na campanha. Minha família tem propriedade rural.

3.Suas referências e influências de vida (música, literatura, pessoas)?
Minhas referências na música são Los Cantores de Quilla Huasi, Los Indios Tacunau (Argentina); Los Olimareños, Santiago Chalar e Alfredo Zitarroza (Uruguay); Noel Guarany e Jaime Caetano Braun (RS); Ruben Blades (Panamá); Paco de Lucia (Espanha).
Na poesia, Osíris Rodriguez Castillos, Yamandu Rodriguez, Serafin J. Garcia, Romildo Risso (Uruguay); Olavo Bilac, Lobo da Costa, Augusto dos Anjos e Castro Alves (Brasil); Fernando Pessoa (Portugal); Aureliano de Figueiredo Pinto, Jaime Caetano Braun, Apparício Silva Rillo, Vargas Neto (RS)
Na prosa, Eça de Queirós, Émile Zolá, Sir Arthur Conan Doyle, Érico Veríssimo.
Lançamento do CD no Galpão Crioulo

4.Como começaste sua relação com a música, com a composição?
Comecei a tocar com cerca de 13 anos de idade e a compor com 17 anos. Minhas influências sempre foram o campo e o folklore pampeano.

5.O que te fez escolher a música/ poesia nativista?
Minha origem.

6.O que te incentiva continuar?
Na realidade, muito poucas coisas incentivam... ocorre exatamente o contrário, o desestímulo. A vaidade desmedida, a falta de compromisso com a verdade e o mercantilismo da arte.

7.Como te imaginas daqui a algum tempo dentro cenário musical?
Não faço a menor idéia. Gostaria apenas que meu trabalho fosse lembrado como uma expressão de verdade de meu tempo.

8.Os sacrifícios que já fizeste pela música?
Na verdade muito poucos. Música tem sido um complemento para a alma. Não cheguei a sacrificar nada por ela. Apenas tenho ganho: amigos, parceiros e satisfação para a alma.

9.Te arrependes de ter feito algo ou não ter feito pela música?
Não me arrependo de nada. Sempre penso por muito tempo antes de tomar qualquer decisão em minha vida.

10.Inspirações para compor? Tens algum ritual que te ajuda a compor?
Não. É um processo quase que independente e alheo à minha vontade.

11.Tem alguma música que gostaria de ter feito e não fez, e o que fizeste e tens um carinho especial?
Uma música que gostaria de ter feito: O Laçador de Barro.
As músicas que fiz (no caso as letras), em parceria com Edilberto Bérgamo (melodias), pelas quais tenho mais carinho e refletem muito do que sou, são REMANSO e RECUERDO.

12.O que almeja que sua música alcance?
Nada. Apenas que seja reconhecida com uma pequena expressão de verdade de meu tempo.

13.O que tem ouvido mais nos últimos tempos?
Folklore Argentino e Uruguayo e Sul-Americano (24 horas por dia). Quando afrouxa um pouco o Folklore, escuto Ruben Blades, Paco de Lucia, Adrés Segovia e Raphael Rabello

14.Show que foste - livros que têm lido?
Um show que marcou minha vida foi o de Los Indios Tacunau, que assisti em Durazno (Uruguay), em 1996.
Tenho lido ultimamente os realistas: a obra completa de Eça de Queirós, Émile Zolá, Aluísio de Azevedo.

15.Como vês a influência da música da região do Prata na música nativista? E fala um pouco da tua intimidade com essa música, é natural para ti compor em espanhol?
A interferência da música do Prata na nossa música é praticamente total. Apenas algumas ilhas de folklore português subsistem ainda em nossa música, como a Chimarrita. O resto é todo aporte Platino.
O idioma espanhol, para mim, é tão língua-mãe como o português. Compor parece ser bem mais fácil em espanhol do que em português.

16.Festivais, primeiro festival composição e parceria?
Vertente de Piratini, ano de 1993, DE ESTÂNCIA E SAUDADE, parceria com Zulmar Benitez.

17.Como encaras esse meio ao mesmo tempo aberto, democrático, mas também bastante criticado por certa impressão de “panelas” dos festivais?
Estou totalmente à parte do meio dos festivais. Quando passa alguma música minha ou de um parceiro da qual eu goste, eu vou e toco. Não me envolvo em nenhum tipo de discussão sobre esse assunto.

18.Fala um pouco da tua experiência nessa trajetória dos festivais? Triagens, premiações, e como avalia a tua participação nos festivais que estão iniciando sua estrada, as vezes sem ajuda de custo, outras sem premiação enfim...? Festivais de poesia?! Como poeta e amadrinhador.
Olha, como disse antes. Quando passa alguma coisa minha ou de parceiro da qual eu goste, eu vou e toco. Procuro não julgar mais festivais de música. Os festivais de poesia estão muito escassos. E quanto a festivais com ajuda de custo muito baixo, é difícil a gente participar, pois não se pode investir plenamente nas músicas. Isso é um problema, visto que muita gente ainda nos taxa de merenários.

19.Vencer o bairrismo é algo que inevitavelmente, acontecerá...ou achas que não existe essa diferenciação de estados? Acreditas que algum dia a música mais trabalhada (gaúcha/nativista) alcance um respaldo maior dentro do cenário musical brasileiro?
Não acredito, pois acho que somos diferentes mesmo do resto do país. E, infelizmente, me parece que o restante do país não gosta mesmo de nós, com exceção de Santa Catarina (que julgo igual a nós) e o Rio de Janeiro (que parece que gostam dos gaúchos).

20.Fala um pouco da tua experiência como jurado, estás preparado para críticas?
Sempre estive preparado para críticas, porém, não vindas de pessoas sem moral ou com interesses escusos. E, além do mais, o que gosto de fazer mesmo é tocar com meus amigos e parceiros, ao invés de estar submetido a uma imensa carga negativa(que, normalmente se recebe, sendo jurado).

21.O que pensas sobre a realização de festivais fechados, achas que seria possível fazer um festival apenas de música nativista instrumental, que pensas sobre isso?
Sobre os festivais fechados, não sou a favor, pois pode prevalecer apenas uma minoria. Os festivais abertos, com triagem e variação de júris, permitem que pessoas de novas gerações possam alcançar seu espaço. Quanto a festivais de música instrumental, acho que seria muito importante que ocorressem. Existe um apenas, que o SEIVAL DA POESIA GAÚCHA, em São Lourenço, que possui uma modalidade de música instrumental.

22.Como é a sua relação com os outros músicos de SC e RS?
É ótima... em todas as áreas e todos os estilos. Graças a Deus, não tenho inimigos, principalmente no meio musical.

23.Como é para ti saber que sua música ganha fronteiras além do RS?
É bastante importante, visto que, apesar do regionalismo dos temas abordados, ainda se consegue um pouco do caráter universal necessário a qualquer obra para ser compreendida além fronteiras.

24.Como lida com o assédio que vem naturalmente como resposta ao trabalho que desenvolve? Como é tua relação com os fãs e com os novos músicos?
Olha, realmente eu não muita bola a essas coisas. Atendo todas as pessoas que me procuram da mesma forma carinhosa e imparcial.

25.Viver de música : utopia ou realidade?
Realidade complicada, porém, possível. Teríamos apenas, que ser mais unidos em nossa classe.

26.Qual é a melhor coisa do ambiente dos palcos, dos festivais, rodeios...?
A comunhão sincera da arte. É a única coisa que me interessa.

28.Como vês a divulgação que é feita das músicas em geral, dos festivais? Rádios, gravadoras?
Muito falha. Hoje, o meio dos festivais é cada vez mais restrito ao próprio meio. É uma pena, pois dos festivais, saem trabalhos maravilhosos que mereciam ganhar o respeito da população.

29.Em linhas gerais como avalia a tua imagem e responsabilidade sendo uma pessoa pública e voz para sentimentos de muitas pessoas?
Eu somente espero passar às pessoas minha verdadeira imagem. Simplesmente ser visto como um testemunho de minha época.

31.A ânsia andarilha faz parte desse mundo festivaleiro, que pensas sobre isso; estar sempre na estrada? Como fica o coração nesse caminho? A família?
É bastante complicado. Isso também foi uma das coisas que me fizeram repensar sobre a estrada o tempo inteiro.

32.Acreditas que a música feita hoje sobreviverá à voracidade e volatilidade do mundo de hoje, resistindo e sendo lembrada daqui a algum tempo?
Não faço a menor idéia. Isso, somente o tempo poderá dizer. E a história tem mostrado que esse processo é realmente implacável. Quem merece, fica!

33.Que times torces, comidas, bebidas?
Glória do desporto nacional... INTERNACIONAL. Não bebo nada que contenha álcool e não fumo. Comido é somente para matar a fome.

34.O que te faz sentir de alma lavada?
Muitas coisas... minha família é a principal, a outra é a música.

35.O que te faz sentir-se mal?!
Pessoas mesquinhas, vaidosas e prepotentes.

36.Fala um pouquinho da tua vida fora dos palcos? Fala um pouco da arte de lecionar, da importância dessa vivência de sala de aula? Como você está vendo essa juventude acadêmica que está se formando agora?!
É a outra grande realização da minha vida, outra coisa que me complementa: dar aula. Eu adoro o ambiente com pessoas jovens e cheias de vida e sonhos. Porém, acho a juventude acadêmica um pouco mal preparada (reflexo do ensino em nosso país).

37.Planos pro futuro?
Ver meus filhos crescerem sadios.

38.Mensagem para as pessoas que admiram seu trabalho?
Muito obrigado, do fundo do coração.

39.Sua relação com a internet?
É ótima. Acho que foi um dos grandes inventos do século passado.

40.Acreditas na federalização do estados brasileiros?
Olha, na verdade, mesmo... eu acredito no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

41.Pra ti como é encarar as grandes polêmicas que assolam o nativismo, as disputas de poder, as rixas nos Ctgs, discussão do que é bom e do que é ruim e como avalia a nova geração de músicos e compositores que vêm por aí?
Essas disputas são altamente prejudiciais a nosso meio. Esse é um dos grandes fatores que nos relegam a um sub-plano artístico-musical.
Sobre os novos compositores, acho uma geração maravilhosa que vem surgindo aí. Sempre costumo dizer que essa renovação pode fazer e faz a grande diferença musical de nossos tempos.

42.Como vês a relação da música nativista com as rusgas das entidades tradicionalistas ?
Acho que isso reflete muita vaidade, soberba e maldade. Rótulos e censuras são marcas de ódio e segregação.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Zé Renato Daudt

´,Fico bastante contente de publicar depois de tanto tempo esta nova entrevista, com um talentoso compositor de letra e música: Zé Renato Daudt. Colecionador premiações nos festivais e um torcedor apaixonado pelo seu Colorado, "sempre..."! Aproveitem e deixem seus comentários.
:)
15ºEstância da Canção, São Gabriel/RS - melhor melodia


1.És natural de onde? Idade?
Rio Pardo/RS, 35 anos, tendo adotado a pequena Lavras do Sul, por opção e coração.

2.Qual sua relação com o campo, cavalo e a cidade grande?
O campo e o cavalo estão ligados a minha vida desde a infância em Rio Pardo/RS onde passava diversos períodos em estâncias de parentes e amigos. Na juventude, já em Lavras do Sul, minha terra de coração, esses laços se estreitaram em função dos costumes locais.

3.Suas referências e influências de vida (música, literatura, pessoas)?
Não sou suscetível a muitas influências, nem tenho muitas referências, sou bem eclético, mas sou fã de várias pessoas, entre elas: Érico Veríssimo, Ricardo Guiraldes na literatura, João Bosco na música. Pessoas?? Acho que admiro muitas, principalmente as de caráter, até porque ninguém é perfeito.

4.Como começaste sua relação com a música, com a composição; Como você vê o fato de morar na região da grande Porto Alegre e o que isso influência na tua composição?
Em 1998, meu parceiro Gujo Teixeira, chegou com metade de uma letra pra me pedir algumas dicas. Acabou que fizemos nossa primeira parceria. Fomos premiados com a música mais popular do 15º Reponte com a composição Milonga Praiana. Já se vão 10 anos.

5.O que fez com que tivesse certeza de seguir a carreira, o que te fez escolher a música nativista?
Não vivo da música nativista, componho por opção e não por profissão, embora tenha o mais profundo respeito e admiração daqueles que vivem da música.

6.O que te incentiva continuar?
Comentários de pessoas que nunca vi e que admiram o que componho, respeito dos demais músicos e intérpretes e uma eterna inquietude de tentar expor o que sinto, penso e vivo.

7.Como te imaginas daqui a algum tempo dentro cenário musical?
Nem idéia. Me imagino compondo da mesma forma como que venho fazendo. Participando de poucos festivais, porém sempre com qualidade.

8.Os sacrifícios que já fizeste pela música?
Nunca fiz sacrifícios pela música, se fizesse, talvez fosse a hora de pensar em parar de compor.

9.Te arrependes de ter feito algo ou não ter feito pela música?
Não, de jeito algum.

10.Inspirações para compor? Tens algum ritual que te ajuda a compor?
Minha esposa, minhas filhas, meus amigos e esse amor enorme pela nossa cultura, suas características e suas peculiaridades.

11.Tem alguma música que gostaria de ter feito e não fez, e o que fizeste e tens um carinho especial?
Várias. O cenário da música gaúcha é muito rico em obras musicais. Podem ser duas?? “Os da última tropa”, Sérgio Carvalho Pereira e “Ainda esses dias”, Gujo Teixeira. Das minhas, ‘À sombra de um cinamomo’, parceria com Joca Martins, tenho um enorme carinho por ela porque foi minha primeira letra ‘solo’ e com ela participamos da 20ª Coxilha Nativista-Cruz Alta/RS e da 30ª Califórnia da Canção-Uruguaiana/RS.

12.O que almeja que sua música alcance?
Alcance pessoas de bem e que parem pra entender o que minhas letras querem ou tentam dizer.


20º Festival de música Crioula de Santiago/RS - melhor letra


13.O que tem ouvido mais nos últimos tempos?
Leonel Gomes, Pirisca Grecco, Fito Paez.

14.Show que foste - livros que têm lido?
O último show foi um da Shana Muller em um projeto bem legal que está acontecendo em Porto Alegre (Segunda Regional). Livro, “Abusado”, de Caco Barcelos.

15.Como vês a influência da música da região do Prata na música nativista?
Salutar. Acho que conceitos retrógrados é que não podem existir. É sempre bom estar atento a culturas de um modo geral, principalmente as que tem tanta afinidade com a nossa cultura gaúcha, como é o caso da música da região do Prata.

16.Festivais, primeiro festival composição e parceria?
15º Reponte da Canção, São Lourenço do Sul/RS, Milonga Praiana (Zé Renato Daudt/Gujo Teixeira/Kako Xavier), interpretação de Kako Xavier e Joca Martins.

17.Como encaras esse meio ao mesmo tempo aberto, democrático, mas também bastante criticado por certa impressão de “panelas” dos festivais? Festivais em SC?
Encaro com muita naturalidade. Essa questão de supostas ‘panelas’ é antiga e jamais vai mudar. Pra mim, o que existe é maior ou menor afinidade musical entre jurados e compositores. Não acredito em beneficiamento de uns em detrimento a outros puramente por sacanagem e ausência de caráter. Prefiro acreditar em afinidades musicais. Acho que as comissões organizadoras é que deveriam deixar claro o que querem do seu festival ao convidar o corpo de jurados. Participei de três festivais em SC: a Sapecada-Lages, Canto dos Desgarrados-Itajaí e Laçada em Brusque. Três terceiros lugares, dois em Lages e outro em Itajaí.

18.Fala um pouco da tua experiência nessa trajetória dos festivais? Triagens, premiações, e como avalia a tua participação nos festivais que estão iniciando sua estrada, as vezes sem ajuda de custo, outras sem premiação enfim...?
Triagem e júri só participei de um, Bateada da Canção Nativa, em Lavras do Sul. Premiações são poucas também, mas muito importantes para mim: Música Mais Popular do 15º Reponte da Canção, Música Mais Popular do 9º Círio de Pelotas, 3º Lugar da 14ª e 15ª Sapecada da Canção Nativa, 2º Lugar e Melhor Letra do 20º Festival de Música Crioula de Santiago, 3º Lugar e melhor melodia na 15ª Estância da Canção em São Gabriel, e agora, semana passada, Música Mais Popular do 5º Aldeia da Música do Mercosul em Gravataí.

19.Vencer o bairrismo é algo que inevitavelmente, acontecerá...ou achas que não existe essa diferenciação de estados? Acreditas que algum dia a música mais trabalhada (gaúcha/nativista) alcance um respaldo maior dentro do cenário musical brasileiro?
Difícil, porém não impossível. O que acho é que não podemos nos prostituir fazendo músicas ditas populares esquecendo de conceitos, valores e qualidade simplesmente para vencer esse bairrismo imposto pela grande mídia nacional. Temos sim é que enaltecer o que fazemos na música nativista há muito tempo. Um dia, na insistência, acho que o resto do país dará valor ao que fazemos.

20.Fala um pouco da tua experiência como jurado, estás preparado pras críticas?
Tive uma única experiência como jurado, mas já deu pra ver a dificuldade que é o desempenho da função. Por outro lado, acredito que a crítica sobre um jurado é normal, costumeira, porém desnecessária. Acho que no momento que uma comissão organizadora convida uma pessoa para julgar o trabalho de colegas ela se torna co-responsável pelo resultado, afinal de contas conhece o trabalho do jurado, suas afinidades musicais e seus parceiros e sabe o que quer de seu festival, qual linha ele deverá adotar. Os concorrentes também têm essas informações, então devem ler conforme a cartilha, mas sempre respeitar o resultado, muito embora às vezes esse seja injusto tecnicamente e de encontro à vontade popular ou mesmo do concorrente.

21.O que pensas sobre a realização de festivais fechados, achas que seria possível fazer um festival apenas de música nativista instrumental, que pensas sobre isso?
Sempre que posso vou a festivais fechados. Renovo minhas idéias e sempre, mas sempre mesmo aprendo alguma coisa que agrego ao que componho. Ano passado fui 1º Lugar do Paradouro do Minuano na parceria de Márcio Nunes Correia e Juliano Moreno com uma obra que provavelmente fora daquele ambiente jamais teríamos composto. Quanto a festivais fechados de música instrumental acredito que seria uma ótima idéia, quem sabe mesclando poesia como, aliás já é feito em São Lourenço do Sul com o Seival da Poesia Gaúcha que não é fechado, mas possui uma linha de poesia e outra de música instrumental.

22.Como é a sua relação com os outros músicos de SC e RS?
De SC é pequena, até porque meu primeiro contato com músicos de SC foi por época da 14ª Sapecada. Agora esses dias o Índio Ribeiro cantou uma obra minha em Brusque. A tendência é que essa relação aumente e melhore a cada dia. Já no RS, a relação é muito boa.

23.Como é pra ti saber que sua música ganha fronteiras além do RS?
Excelente. É muito bom saber que não só no RS as pessoas cultivam raízes e escutam o que compomos.

24.Como lida com o assédio que vem naturalmente como resposta ao trabalho que desenvolve? Como é tua relação com os fãs e com os novos músicos?
Não tenho assédio sobre minha pessoa. Noto muito carinho de um pequeno número de pessoas que admiram o que componho. Procuro compartilhar e sorver desse carinho. Quanto a compositores novos, eu me considero um, pois acho que tenho muito a aprender, mas ao longo dos tempos tenho tentado ampliar minhas parcerias com compositores ainda desconhecidos do grande público e que aos poucos, com certeza, irão conquistar seu espaço.

25.Viver de música : utopia ou realidade?
Pra mim, nenhuma nem outra e sim uma coisa muito distante em virtude do número pequeno de composições e por adorar minha profissão, a advocacia.

26.Fala um pouco da música instrumental gaúcha e brasileira como um todo? Tua visão sobre como ela é vista e aceita pelo público.
Acho que vem melhorando essa visão do público com a música instrumental, porém, às vezes, é mais fácil para o grande público escutar algo mais dançante, mais ‘popular’ do que prestar atenção em melodias bem trabalhadas e de qualidade.

27.Qual é a melhor coisa do ambiente dos palcos, dos festivais, rodeios...?
O contato com parceiros, outros compositores e com o público em geral.

28.Como vês a divulgação que é feita das músicas em geral, dos festivais? Rádios, gravadoras?
Acho que ainda estamos vivendo um período de puro amadorismo nesse aspecto, às vezes até desrespeito com quem trabalha com música nativista. Por exemplo, muitas rádios sequer dão os nomes dos compositores quando rodam uma obra musical, completo absurdo isso. Parece que simplesmente o intérprete foi quem parou, pensou, escreveu o poema, musicou, gravou, etc....todos têm sua parcela de contribuição, então todos têm que ser lembrados.

29.Vais lançar teu trabalho em CD?, fala um pouco dele, das parcerias, gravadora, receptividade do público
...O projeto já existe sim....em princípio de forma independente e com repertório baseado em participações em festivais....parcerias com Gujo Teixeira, Marcelo Oliveira, Joca Martins, Diego Espíndola, Beto Borges, Fábio Maciel....interpretado por diversos intérpretes.....espero que o público goste do resultado.....

30.Em linhas gerais como avalia a tua imagem e responsabilidade sendo uma pessoa pública e voz para sentimentos de muitas pessoas?
Não me considero uma pessoa pública, mas minha responsabilidade é tentar transmitir conceitos e valores que acho importantes para a formação do caráter e da moral das pessoas.

31.A ânsia andarilha faz parte desse mundo festivaleiro, que pensas sobre isso.estar sempre na estrada? Como fica o coração nesse caminho? A família?
É brabo. A distância e a saudade fazem parte desse meio festivaleiro e inclusive são inspirações para composições. Sempre que posso carrego toda a tropa daqui do rancho.

32.Acreditas que a música feita hoje sobreviverá à voracidade e volatilidade do mundo de hoje, resistindo e sendo lembrada daqui a algum tempo?
Com certeza. Tanto é assim que apesar das dificuldades financeiras os festivais cada ano se renovam, surgem letristas, musicistas e intérpretes que seguirão carregando a bandeira do nativismo.

33.Que times torces, comidas, bebidas?
Glorioso Inter (Campeão do Mundo FIFA), churrasco e uma cerveja bem gelada.

34.O que te faz sentir de alma lavada?
Um elogio de alguém que admiro ou mesmo de um desconhecido sobre alguma obra minha, um abraço das minhas filhas, uma vitória num Grenal, tipo esse dos 4x1 desse ano ou pode ser de 1x0 em cima do Barcelona mesmo.

35.O que te faz sentir-se mal?!
Inveja e falta de caráter.

36.Fala um pouquinho da tua vida fora dos palcos?
Sou advogado. Atuo nas áreas trabalhista e cível, inclusive com direito autoral. Moro em Porto Alegre. Sou casado com alguém muito especial. Tenho duas filhas lindas: Isadora e Valentina. Prezo muito minha família e meus amigos. Tenho na música uma válvula de escape muito grande para agüentar as agruras da vida, tanto as minhas como as de meus clientes, pois tenho dificuldade em fazer essa divisão. Sou feliz com o que faço e com o que já conquistei, mas ainda estou engatinhando...

37.Planos pro futuro?
Viver bem. Com paz, saúde e alegria. Participar do Martin Fierro, um dos festivais que nunca tive o prazer de classificar uma composição, participar novamente da Sapecada.


Depoimento à Shana Muller na 15ºSapecada da Canção em Lages/SC,
Zé Renato tem dois terceiros lugares no festival ( 15º e 16º Edições).


38.Mensagem para as pessoas que admiram seu trabalho?
Apesar de compor pouco, componho de alma e coração tentando alcançar quem souber dar valor às coisas mais simples da vida, porém imprescindíveis.

39.Sua relação com a internet?
Boa....ela é minha parceira tanto como ferramenta de trabalho, quanto nas horas de compositor.

40.Acreditas na federalização do estados brasileiros?
Assunto complexo. Existem prós e contras muito definidos. Se por um lado as distâncias de um país enorme como o Brasil prejudicam o crescimento de alguns Estados, por outro, também sou contra a qualquer tipo de preconceito, seja religioso, racial ou que conduza ao isolamento ou segregação.

41.Fala um pouco de Lages, o que te chamou mais atenção, se quiser falar sobre as pessoas, enfim, fica a vontade.
Sempre tive grande expectativa de conhecer Lages em função da Sapecada. Não me decepcionei nem com o festival, muito menos com seu público. Calor humano, respeito pelos artista que estão no palco são atributos que norteiam o povo lageano. Pessoas?? Bah....o Tio Lélo é excelente. Devo muito carinho pelo tratamento que ele dispensou a mim e a minha família quando conhecemos a Fazenda do Barreiro. Como ele mesmo fala...’um VIVA PRO TIO LÉLO’...ehehehe... Espero retornar à Lages e conhecer mais pessoas desse quilate.

42.Pra ti como é encarar as grandes polêmicas que assolam o nativismo, as disputas de poder, as rixas nos Ctgs, discussão do que é bom e do que é ruim e como avalia a nova geração de músicos e compositores que vêm por aí?
Essas polêmicas sempre existiram e sempre existirão. Acho que cada um tem que fazer a sua parte e cuidar do seu próprio umbigo. Bom ou ruim depende do gosto pessoal de cada um, então...Quanto a novos talentos acho que a música nativista ao longo dos anos vem sendo um celeiro e sempre vai ser assim. Nós, brasileiros, somos musicais por excelência.

43.Como vês a relação da música nativista com as rusgas das entidades tradicionalistas ?
Como já referi, acho que cada um deve fazer sua parte, sem se preocupar com preconceitos ou com o que o outro está fazendo. Menos discórdia e controversas e mais ação por nossa cultura.


Abraço a todos, outubro de 2008.
Zé Renato Daudt




sexta-feira, 20 de junho de 2008

"Por isso as vozes que ouço, de tempos imemoriais, são mensagens fraternais, pra quem renasceu agora, por isso minh'alma aflora, em cada coisa que penso, e deixa um rastro de incenso, pra exalar campo afora, e permaneço gaúcho, porque a essência perdura, templa rude, alma pura, que a história conhece a fundo, mesmo pequeno e inundo, de imperfeições deste plano, eu me sinto o ser humano , mais genuíno do mundo... " De estância Alma e Tempo

Eron Vaz Mattos


Externar minha admiração por este poeta, escritor, pela pessoa que é com certeza é cair no lugar comum. Uma pessoa que conseguiu ao longo desse tempo ser unânime, respeitado e admirado por todas as faixas etárias e classes de conhecedores da cultura nativista.~Nunca ouvi um comentário desmerecendo-o. Conhecê-lo pessoalmente sempre foi um desejo, desde que comecei a rascunhar versos, ter tido a honra de passar uma tarde ouvindo e mesmo que por pouco tempo ter entrado no seu universo foi um presente de alto valor.
Divido com vocês um pouco através desta entrevista, intermediada por Alessandro Vaz Mattos, da alegria e da certeza que existem pessoas capazes, competentes e ainda assim donos de uma grande humildade. Sem falar num abração de urso...coisa bem boa!! Gracias Cris e Carla, pela festa que foi Bagé.
.....
Ah! Bagé me espera
Com um olhar de saudade
A mirar da janela
Lá onde xucro se amansa

...
Érlon Péricles



1.És natural de onde? Idade?
Nasci, cm muito orgulho, na localidade de Olhos D’água, interior do município de Bagé a 15/12/1950

2.Qual a tua relação com o campo, cavalo, com a fronteira (região do prata)?
A minha relação com o campo e o cavalo é estreita desde o momento em que nasci, assim como acompanho o folclore da região do prata de longos anos; inclusive atuando como músico até o final da década de 70, principalmente no Uruguai.

3.Tuas referências e influências de vida (música, literatura, pessoas)?
Sempre fui apreciador da boa música independente do gênero; entretanto, construí singular predileção por aquela que identifica o homem gaúcho e seu universo; onde estão inseridos Atahualpa Yupanqui, Osíris Castilhos, Jorge Cafrune, Serafim Garcia, Elias Regules, Romildo Risso, Aníbal Sampayo, Alfredo Zitarroza, Ruben Lena e mais uma infinidade de nomes de imenso valor.Fui presenteado pela Sabedoria Maior com a oportunidade de conviver muito e construir sólidas amizades com pessoas de grande expressão em nosso meio, tais como: Jaime Caetano Braun, Apparício Silva Rillo, Noel Guarani, Glênio Fagundes, Marco Aurélio Campos, Santiago Chalar e Fernando Assunção (do Uruguai), Ramón Ayala e Juan Carlos Pirali (Argentina), etc...,etc...,etc... Sempre envidei os melhores esforços, durante toda a vida na descoberta e aquisição de obras sobre a cultura crioula tanto no RS quanto do Uruguai e Argentina.

4.Como começou tua relação com a música, com a composição?
Por vocação natural; desde a mais tenra infância aprendi alguma coisa no braço do violão e no teclado do acordeon, na condição de autodidata, sem jamais ter sido orientado por alguém e sim tentando copiar aos que eu tinha a oportunidade de assistir tocando.

5.O que fez com que tivesse certeza de seguir escrevendo, o que te fez escolher a música nativista?
Na tentativa de contribuir na construção de uma lucidez maior sobre o dia-a-dia do homem gaúcho e, por óbvio, a escolha deve-se a minha origem rural.

6.O que te incentiva a continuar?
O respeito que tenho pelas pessoas que se identificam com o que escrevo; procuro, sempre, expressar as verdades do meu mundo.

7.Os sacrifícios que fizeste pela música?
São incontáveis; somente os idealistas, em prol da cultura verdadeira, é que sabem do desprendimento, doação e grandeza que se precisa ter para manter um posicionamento isento e edificador; em geral, colhem os frutos aqueles que nada fazem, que são meros sanguessugas e aproveitadores especializados em usufruir do talento de outrem alimentando-se dos frutos maduros das árvores que nunca plantaram.

8.Te arrependes de ter feito algo ou não ter feito pela música?
Absolutamente não, tenho a nítida certeza de haver, até aqui, dado todo o possível para o engrandecimento, da nossa arte poético-musical. Embora tendo a consciência de que a minha contribuição tem sido incapaz de atingir patamares que permitam levar as pessoas a buscar, dentro de si, uma identidade cultural que todos precisariam possuir.

9.Inspirações para compor?
A inspiração é algo mágico, quase misterioso a qual não me sinto capaz de explicar de forma adequada. Consiste, na verdade, de momentos de enorme sensibilidade e elevação espiritual que chega e vai embora sem que possamos segurá-la. Aparece nos horários e lugares mais imprevisíveis e totalmente dissociada da razão ou do pensamento trazendo, comumente, acontecimentos passados que marcaram, indelevelmente, positiva ou negativamente a alma de quem escreve.

10.Tem alguma letra que gostaria de ter feito e não fez, e o que fizeste tem um carinho especial?
Não. Jamais me preocupou a busca de temas para escrever; eles chegam espontaneamente e nos momentos mais imprevisíveis conforme mencionei. Cada composição tem uma razão de ser e nascem de uma necessidade intrínseca que se sobrepõe à razão.

11.O que almejas que teus versos alcancem?
Não possuo nenhuma ambição de qualquer matiz nessa área, mas toda a composição que toque o coração de alguém alcança uma dimensão universal e, isso é, profundamente gratificante para mim.

12.O que tem ouvido mais nos últimos tempos?
Conforme já manifestei, ouço e aprecio qualquer gênero musical desde que tenha qualidade, segundo meu entendimento; entretanto, dou predileção ao folclore sério, verdadeiro, profundo, substancial, que engrandece e eleva a alma humana.

13.Show que foste – livros que têm lido?
Entendo o livro como sendo algo que, mesmo desprovido de voz, nos fala silenciosamente, tudo aquilo que desejamos saber; por isso, se faz indispensável no quotidiano de todos quantos desejam crescer. Estou permanentemente lendo, estudando, pesquisando; a agente sempre tem muito que aprender; apenas não me permito ler ficção. Por maior conhecimento que alguém posso adquirir vislumbrará, a sua frente, um horizonte cada vez mais amplo já que o maravilhoso universo da erudição Possi uma amplitude impossível de ser alcançada integralmente...

14.Como vês a influência da música da região do prata na música nativista?
Com preocupação. Acredito que o conhecimento sobre o universo musical é de fundamental importância para compreendermos melhor o diverso matiz geográfico e histórico que formam o homem gaúcho. Porém misturar esses elementos me parece ser um equívoco maléfico já que possuímos a nossa própria cultura histórica e musical. Todo aquele que se propõe a colocar a sua atividade ou talento em favor da cultura precisa ter a lucidez suficiente para não abalar a sua estrutura essencial que , em última análise, é o patrimônio maior.

15.Festivais, primeiro festival composição e parceria?
Iº Sinuelo de São Sepé com a música “Mulato Ferreiro” e como parceiro, Lucídio Bandeira Dourado.

16.Como encaras esse meio ao mesmo tempo, democrático, mas também bastante criticado por certa “impressão” de panelas dos festivais? Festivais em SC?
Como vês o rumo que as coisas tomaram hoje em dia?Há muitos anos não participo, diretamente, de festivais. Apenas alguns amigos possuem poucas letras minhas que, esporadicamente, põem melodia e mandam para um ou outro evento desses, mas eu nunca assisto; por essa razão, é que não me permito opinar sobre uma coisa da qual estou distante e, óbvio, sem o conhecimento necessário para tal.

17.Fala um pouco da tua experiência nessa trajetória dos festivais? Triagens, premiações?
Jamais me preocuparam as triagens, comissões julgadoras, premiações ...até porque cada festival possui o seu regulamento e todo aquele que se propõe a participar automaticamente está de acordo com o que preceitua esse regramento de cada evento.Sempre defendi que o prêmio maior e mais importante é alguém descer do palco com a convicção de haver apresentando a sua música conforme desejava. Essa é a parte que cabe àquele que compete, tudo o demais está fora do seu alcance.

18.Vencer o bairrismo é algo que inevitavelmente acontecerá? Ou achas que não existe essa diferenciação de estados? Acreditas que algum dia a música mais trabalhada (gaúcha/nativista) alcance um respaldo maior dentro do cenário musical brasileiro?
Não creio. O sentimento nativista está presente em todos os animais superiores, principalmente no homem. Jamais podemos pensar que um estado e seu povo são superiores ou inferiores que outros, entretanto, é necessário admitirmos que são diferentes por múltiplos fatores culturais autóctones; fundamentalmente, em um país com extensão territorial como o Brasil. As pessoas se constroem de acordo com o ambiente onde nascem, crescem e vivem, por isso, acabam criando um vínculo emocional profundo com o seu lugar o que é absolutamente natural em todos os continentes. O vocabulário regional se constitui numa barreira difícil de ser rompida por vários fatores já mencionados, mas nas classes mais eruditas, tenho percebido uma respeitosa aceitação e apreço por parte de pessoas de outras regiões brasileiras com relação a nossa canção.A música que nos identifica, de forma genuína, não possui características que possam torná-la de grande aceitação popular até por ser nitidamente introspectiva e com expressões micro regionalizadas absolutamente peculiares dentro do contexto nacional.

19.Como lida com as críticas, e ao mesmo tempo ser espelho para outros autores? Fala um pouquinho de algumas pessoas como Lisandro Amaral, Sonido Del Alma Gaúcha, e por aí vai?
Em geral as críticas desabonatórias partem de alguém incapaz, sem talento para nada e, principalmente, sem comprometimento com a arte, a cultura e o bem comum, e, sendo assim, não causam nenhum incomodo ou inquietação para mim.Não estou seguro que tenha servido de espelho para outros autores, mas a se confirmar a sua afirmativa, faz-me sentir engrandecido como ser humano...Em relação às pessoas, amigos e parceiros, considero-me suspeito para emitir opinião porque os acompanho desde o início de suas exitosas trajetórias e são pessoas profundamente caras para mim. Mas penso que são destacados talentos que têm enriquecido sobremaneira o patrimônio poético-musical do nosso estado.

20.Como é a sua relação com outros músicos de SC e RS?
A melhor possível, sempre mantive uma relação respeitosa com todas essas pessoas, faz-me bem conhecê-las e aprender com elas. Não faço restrições a ninguém. Todos merecem consideração até que provem em contrário.

21.Como é pra ti saber que teus versos ganham fronteiras além do RS?
Da mesma maneira que me deixa lisonjeado, faz-me sentir uma responsabilidade imensa, coisa que eu jamais imaginei pudesse acontecer até por que nunca escrevi com essa intenção. Os meus pobres versos rurais nascem de uma necessidade intrínseca de expressar a realidade, as expectativas, as dores e alegrias dos meus iguais do campo.

22.Como lida com o assédio que vem naturalmente como resposta ao trabalho que desenvolve? Como é tua relação com os fãs e com os novos músicos? Como vês o futuro da nossa cultura, atuação dos jovens nativistas nesse resgate e perpetuação da tradição?
Confesso que há momentos difíceis, cansativos, porque as pessoas em geral, esperam da gente aquilo que elas necessitam para saciar a sua “sede” e não o que a gente pode dar e, muitas vezes qualificam-nos como seres superiores e não é assim. Somos pobres e imperfeitos mortais, suscetíveis a qualquer sentimento, fragilidade ou necessidade, como todos os demais...Mantenho a melhor das relações com os novos músicos e, quando solicitado, sempre estou disposto a contribuir naquilo que esteja ao meu alcance. Na verdade, eles são continuadores dos objetivos sonhados por seus antecessores...Em relação ao resgate e a perpetuação da tradição, são aspectos que me preocupam sobremaneira de vez que, embora tenhamos talentos de imensa estatura, há uma acentuada necessidade de se estudar muito, muito e refletir ainda mais para solidificar a lucidez sobre quem somos e de onde viemos desde o início do tipo sócio-antropológico “Gaúcho”.

23.Viver de música: utopia ou realidade?
Mesmo sendo difícil algumas pessoas conseguem viver satisfatoriamente tendo a música como atividade profissional.

23.Fala um pouco da música instrumental gaúcha e brasileira como um todo? Tua visão sobre com é vista e aceita pelo público?
Entendo que a música instrumental que possuímos atingiu um nível altíssimo, maravilhoso, mas inexplicavelmente, parece que não conquistou um público significativo como era de se esperar quem sabe por uma questão cultural...
24.Qual é a melhor coisa do ambiente dos palcos, festivais...?
Acredito que o melhor dos festivais está nos bastidores onde se reúnem os autores, músicos, interpretes... É nesses momentos em que as pessoas consolidam amizades, conhecem novos amigos e, nesses lugares a arte atinge uma dimensão singular pela descontração o que propicia um enriquecimento recíproco imenso alcançando uma dimensão espiritual e fraterna de grande expressão.

25.Como vês a divulgação que é feita das músicas em geral, dos festivais, gravadoras, rádios?
Pelo que tenho observado ao longo dos anos, esse é um problema grande significando eis que a distribuição deixa muito a desejar e as emissoras de rádio não rodam as músicas de festivais como deveriam. Apenas o fazem quando conjuntos ou cantores gravam-nas em seus discos particulares. Certamente existem dezenas de belíssimas canções de festivais que são praticamente desconhecidas, quase “inéditas”.

26.Em linhas gerais como avalia a tua imagem e responsabilidade sendo uma pessoa pública e voz para sentimentos de muitas pessoas?
Avalio como uma densa responsabilidade, entretanto não me envaidece.

27.A ânsia andarilha faz parte desse mundo festivaleiro/ artístico. Que pensas sobre isso de estar sempre na estrada? Como fica o coração nesse caminho? A família?
Embora seja cansativo andejar, a estrada ensina muito, é uma das grandes escolas que o homem pode freqüentar. No meu caso, conforme mencionei, há muitos anos estou afastado desses eventos.

28.Acreditas que a música feita hoje sobreviverá à voracidade e a volatilidade do mundo globalizado, resistindo e sendo lembrada daqui a algum tempo?
Conforme já mencionei na resposta a pergunta 22, somente um nível cultural elevado da população sulina poderá fazer com que isso aconteça, caso contrário, poderá ser engolida pela globalização.

29.Lançaste um livro “Aqui: Memorial em Olhos D’água” fala um pouquinho dele, se pretendes fazer outro, distribuição, onde encontrá-lo?
Até o momento possuo três livros editados a saber: - Romance de Estrada Longa, Aqui (memorial em Olhos D’água) e Meu Canto. O livro AQUI, é um ensaio etnográfico da minha região, ilustrado com 236 fotos do quotidiano rural. Penso que essa é a obra da minha vida. Encontra-se esgotado como os demais, embora como alguma possibilidade de reedição mesmo que um tanto remota.Estou com outros três livros prontos para serem editados, porém, acredito que permanecerão inéditos porque é caríssimo editá-los e as pessoas, atualmente, possuem outras prioridades muito distanciadas do conteúdo silencioso dos livros.

30.Acredita numa maior autonomia dos estados, o sul-independente? Como vês a posição das pessoas no sul em relação à política social-econômica diante do país? Mercosul algo que realmente existe?
É uma questão difícil de ser respondida em poucas palavras, mas sou favorável à autonomia maior dos estados. Mercosul nunca saiu do papel lastimavelmente.

31.Fala um pouco de Bagé, tua relação com esse chão, a fronteira, o campo... Ela dentro do estado do RS?
Bagé é uma antiga cidade de campo fundada em 1811 e, sem dúvida possui uma riqueza histórica impressionante e está situada a 60km do Uruguai e mais; hoje, por uma constatação técnica reconhecida a nível mundial, podemos afirmar que esta região fronteriça, mais o território do Uruguai pe parte da Argentina dispõem dos melhores campos naturais do planeta. Este é o meu lugar, a minha querência, meu chão.. Esta fronteira possui elementos mágicos por um amálgama cultural de idiomas, almas, sentimentos, campos largos e céu profundo.

32.Que time torces, comidas, bebidas?
Prescindo de algumas coisas e, entre elas, esse esporte que não faz parte da minha vida, acredito que tenha descoberto coisas bem mais importantes para refletir e tentar crescer espiritualmente.Em relação à comida, me agrada muito o tradicional assado, que erroneamente chamam de churrasco, e uma infinidade de pratos maravilhosos e simples que constituem o dia-a-dia da minha região e de seus habitantes rurais. Não sinto necessidade de comidas requintadas, a melhor das essências reside nas coisas simples.

33.O que te faz sentir de alma lavada?
Muitas situações me satisfazem como ser, quando se faz justiça, quando se pode ajudar alguém, ver triunfarem os que merecem...

34.O que te faz sentir-se mal?
O contrário da resposta anterior.

35.Planos para o futuro?
Não alimento muitas preocupações com o futuro já que, este é sempre uma incógnita. O que realmente tem valor para o homem é sua trajetória vida adentro, sua vivência, sua experiência, seus aprendizados, seus erros e acertos, seus amores... Tudo o que podemos nos valer para ajudar-nos, no presente, está contido no passado que pode e deve ser o grande patrimônio que ser humano precisa edificar para depois usufruir nos momentos adequados.

36.Mensagem para as pessoas que admiram seu trabalho.
Primeiro, o agradecimento sincero e profundo pela valorização e respeito ao que faço, modestamente. Segundo, que todos tenham como meta de vida, a cada novo dia, ser melhor como gente, como ser, como essência vital. Terceiro, que reflitam sobre esta frase imensa do inigualável e saudoso Atauhalpa Yupanqui: “O homem começa a valer quando aprende a entender e respeitar o chão onde pisa.”

37.Tua relação com a internet?
Não tenho acesso.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Rodrigo Jacques

1.És natural de onde? Idade?
De nascimento sou do Rio de Janeiro /RJ em maio de 1964. Mas foi por acidente, a cidade é maravilhosa, porém meu coração pertence à “Cidade Heróica”, Jaguarão /RS.

2.Qual sua relação com o campo, cavalo, cavalo só crioulo? Como é a tua relação com a raça e os eventos ligados a ela?
Todas possíveis. Minha família paterna é de equitadores, clássicos, esportivos e funcionais. A família materna é de criadores de gado e cavalos. Não fiquei um mês da minha vida sem estar envolvido com isso. Estive transitando em diversas atividades eqüestres, mas sempre pensando nos nossos cavalos da pampa e jamais deixei de admirar excelentes cavalos em raças diversas, a generosidade e o caráter não são privilégio da raça A ou B. Participei de algumas exposições funcionais, credenciadoras e muitas provas por aí. Mas o trabalho do dia a dia de estância é maravilhoso, poético, simples e ao mesmo tempo rico em detalhes que o torna factível descreve-lo poeticamente.
3.Suas referências e influências de vida (música, literatura, pessoas) e como elas agem nas suas decisões?
Primeiramente na influência como pessoa, encontro-me bem servido dentro da própria família. Meu pai e minha mãe são inatacáveis neste aspecto, a conduta me foi indicada por eles, ademais leram e lêem muito sobre história, cultura e atualidade seguidas por parentes próximos e amigos íntimos que sempre aportam boas coisas.
Música é arte e sendo assim, muito pessoal. Criei-me escutando folclore platino e um sem número de grupos e ícones povoam minhas influências. Los Fronterizos, Los Cantores de Quilla Huasi, Alfredo Zitarrosa, Santiago Chalar, Los Altamirano, Luis Alberto del Paraná (Paraguai), Los Huasos Quincheros (Chile). Posteriormente comecei a escutar música popular brasileira, Almir Satter, Renato Teixeira, Oswaldo Montenegro. Muita gente boa faz parte da influência, essa corrente que me leva até onde estou agora.
Sempre gostei da literatura brasileira, o que nos faziam ler no colégio nunca foi sacrifício para mim. José de Alencar, Machado de Assis, Erico Veríssimo. Ricardo Güiraldes é eterno no seu romance e Hernandez escreveu a bíblia dos gaúchos. Não vou falar de poetas porque não caberia neste espaço.
Quanto ao envolvimento nas decisões, normalmente se manifestam quando peço, senão esta tudo bem.

4.Como começaste sua relação com a música, com a composição?
Meu primeiro contato com o violão foi em Asunción, Paraguai, onde moramos por dois anos, e peguei o gosto pelo instrumento. Mas comecei a compor em 1999, quando já morava e trabalhava em Jaguarão. Pressão saudável de amigos como Egbert Parada, Paulo Timm e Martim César Gonçalves.

5.O que fez com que tivesse certeza de seguir a carreira, o que te fez escolher a música nativista? De poeta a cantor, explica pra gente um pouco dessa ligação.
Eu acho que não escolhi a música folclórica, ela é que me escolheu. Nada mais natural que eu compor aquilo que me criei escutando. Além do mais, o convívio com a estância, como disse no início, te traz uma inspiração particular. Jamais vais empurrar uma tropa ou juntar um rebanho cantando axé!!

6.O que te incentiva continuar?
Costumo dizer que, aos que Deus deu o dom de criar arte, devem retribuir disponibilizando-a seja de que forma for. Divirto-me muitíssimo nos festivais, encontro amigos, onde trocamos risadas e idéias. É a minha válvula de escape mais utilizada atualmente já que, como engenheiro agrônomo, tenho uma conduta por vezes muito estressada e as pressões habituais me consomem.

7.Como te imaginas daqui a algum tempo dentro cenário musical?
Trato de não pensar muito nisso, mas preparo o campo para divulgar o que crio em apresentações, mais que em festivais. Teorizo que os festivais são importantes para apresentação de novos valores mais que como meio de vida. Neste momento em que acompanho o desenrolar do disco recém lançado, aguardo para ver que rumo seguir, mas creio que a tendência é de mais apresentações e menos festivais. Vamos em frente que atrás vem gente!
8.Os sacrifícios que já fizeste pela música?
O que mais sinto ter que optar é entre um festival grande e passar o fim de semana na costa do rio Jaguarão, eu realmente preciso daquilo. Normalmente chego lá na estância à noite e, já no amanhecer, a gente nota a diferença dos sons e do ar.

9.Arrependes-te de ter feito algo ou não ter feito pela música?
Às vezes penso que comecei tarde, mas ao mesmo tempo, jamais propus escrever nada antes disso. Caminho a passos pensados para não ter resposta para esta pergunta.

10.Inspirações para compor?
Está no ar, no verde, no serviço de campo ou numa conversa à beira do fogo. Numa paisagem bonita, conhecer uma pessoa interessante, enfim, por todos os lados. Não se procura inspiração, ela te acha e cai na tua cabeça.

11.Tem alguma música que gostaria de ter feito e não fez, e o que fizeste e tens um carinho especial?
A única frustração que posso dizer que tenho é não conseguir escrever poeticamente em português, embora me considere com bom vocabulário, creio que ele me serve apenas para laudos e pareceres. Sou um patriota convicto, adoro o meu país, jamais viajo ao exterior sem levar minha bandeira e exponho sempre que sou alvo de atenção.
Quanto a gostar mais ou menos das músicas que fiz é difícil dizer, é como querer que um pai prefira e diferencie o trato a seus filhos, são todos filhos. Digam vocês!

12.O que almeja que sua música alcance?
Reflito que, o ápice da criação poético musical acontece quando o artista toca o coração dos que o escutam, seja por versos graves e reflexivos, ou seja, por espalhar alegria. No meu caso em particular, me esforço para fazer-me entender a despeito de escrever em outro idioma já que, no meu credo, toda a pátria de bombachas é um povo só e a língua, mera formalidade. Todos podem entender, de um lado ou de outro. O preconceito está com os dias contados.

13.O que tem ouvido mais nos últimos tempos? Último Cd que compraste?
Tenho ouvido muita música riograndense, temos ótimos criadores e me delicio ouvindo excelentes letras e melodias. Mas nunca deixo de ouvir folclore em espanhol. Ainda outro dia adquiri um DVD excelente dos 40 anos do grupo MPB4.

14.Show que foste - livros que têm lido? Último livro que compraste? Qual show gostaria muito de ver e ainda não tiveste oportunidade?
Nos festivais onde toco, trato de não perder nenhum, desde que goste. Tenho muito a aprender sobre postura e desenvoltura no palco. Ando muito envolvido com livros técnicos e de legislação, isso não me sacia a vontade de ler, mas me ocupa sobremaneira o tempo que dispenso a esta atividade. Acho que o ultimo que li foi “Fronteira Rebelde”.

15.Como vês a influência da música da região do Prata na música nativista?
Vide Quarto de Ronda nº. 15. Falei muito sobre isso. É uma realidade que vem a enriquecer nosso cancioneiro e da minha parte, continuará crescendo.
16. Como encaras a relação da música popular brasileira e a música nativista?
Existe uma linha tênue em ser popular ou nativista, um ícone nativista pode ser extremamente popular sem deixar de ser folclórico, e um artista popular passa a ser folclórico no momento que “canta sua aldeia”. As duas expressões coexistem e se apóiam em uma só coisa, o povo, o consumidor, este sim deve ser trabalhado. Como? Disponibilizando qualidade e conteúdo.
17. Festivais, primeiro festival, composição e parceria?
Oitenta e cinco por cento do que tenho editado em disco de festivais são letra e música minhas, mas as parcerias são espetaculares na troca de estilo e no encontro do que se perde quando escreve uma letra. No CD lançado, abri mão de algumas parcerias simplesmente por comodidade e apreensão, mas elas virão se Deus quiser.
No Canto Inter-Universitário, o CIRIO em setembro de 1999, subi por primeira vez no palco do teatro Guarany em Pelotas, para defender “De las Lanzas” , uma milonga de minha autoria.

18.Como encaras esse meio ao mesmo tempo aberto, democrático, mas também bastante criticado por certa impressão de “panelas” dos festivais? Festivais em SC? Triagem aberta?
Uma vez já me manifestei sobre certas impressões. Primeiramente: chiam os que perdem e perde que fala demais, amanhã ou depois a criação dele cai nas graças de um jurado ou uma linha de jurados e ele muda de opinião. Julgar arte a partir de um nível é subjetivo e, em um festival com linha definida e jurados coerentes, prioriza-se um tipo de composição que alguns autores daquela linha criam. Muda a orientação, mudam os favorecidos. A virtude da música que está nos festivais é a diversidade. Essa diversidade levará nossa música além das fronteiras do estado, como já está em SC e alhures.
Estive em Lages na 9ª Sapecada e fui muito bem tratado, adorei a acolhida e, embora longe da fronteira, minha música foi bastante aplaudida. E isso realmente me importa. Tem uma letra minha na 2ª Nevada, em parceria com “El Anden” de La Plata, Argentina.

19.Fala um pouco da tua experiência nessa trajetória dos festivais? Triagens, premiações?
Bom, como disse, comecei em 1999 com De las Lanzas, mas a primeira em disco foi Del Este, uma chacarera no 2º Martin Fierro. Desde então nos festivais onde a música em castelhano é aceita, costumo passar música e me realizo com isso. Tenho uma pendência no Musicanto, uma vez fui com uma milonga, outro ano com uma zamba e uma chaya, mas jamais coloquei música no disco. Não sou de muitas premiações e admito que a língua, nisso prejudica um pouco, pois é quase impossível um júri unânime quanto ao espanhol. Tenho um primeiro lugar, melhor letra, um melhor tema campeiro, melhor apresentação de palco. Preocupo-me com o registro das obras, passar para o disco é o que realmente faz a diferença, no momento que galgas este patamar, tua obra e teu nome ali ficarão pelos anos enquanto existir o disco.

20.Vencer o bairrismo é algo que inevitavelmente, acontecerá... Ou achas que não existe essa diferenciação de estados? Acreditas que algum dia a música mais trabalhada (gaúcho-nativista) alcance um respaldo maior dentro do cenário musical brasileiro?
O bairrismo existe, mas muitas vezes sai de dentro, mas é o sustentáculo da individualidade de um estado. Prestem a atenção na forma como os ritmos praticados no Uruguai e na Argentina adentraram aqui, houve alguns insistentes que bateram até abrirem uma frestinha na porta, hoje a fresta já esta maior. Assim temos que pensar quanto ao resto do Brasil. Discordo do uso da expressão “música mais trabalhada”, já não é novidade as freqüentes incursões de nativista aqui do Rio Grande do Sul nos festivais nacionais em SP, PR e RJ, estes são desbravadores, estes pagam para tocar, mas estão abrindo o Brasil para os menos empreendedores que irão logo a seguir, pois temos qualidade para isso. Só não esqueçam deles, são heróis.
21.O que pensas sobre a realização de festivais fechados, achas que seria possível fazer um festival apenas de música nativista instrumental, que pensas sobre isso?
Os festivais fechados são laboratórios, eles permitem a maior troca de informação e a formação de parcerias muitíssimo mais rápido já que todos estão bebendo da mesma fonte. Quanto à música instrumental, enquanto músico acho fundamental sua continuidade e aperfeiçoamento, porém, sendo público, vejo complicada a concentração em torno disso já que as letras são normalmente mais compreendidas que as melodias. Ideal é misturarem-se.

22.Como é a sua relação com os outros músicos/poetas de SC e RS?
Considero-me iniciante no ambiente, mas tenho conhecido ótimas pessoas, que poderão ou não ser ótimos músicos. Podes aperfeiçoar tua arte, mas teu caráter não. A cada novo local que vou encontro novas caras, de poetas, instrumentistas e cantores, cada vez com mais qualidade, isso é garantia de seguimento.

23.Como é pra ti saber que sua música ganha fronteiras além do RS? Como você vê a receptividade da música feita aqui nos países do prata?
Maravilhoso! Recebo mensagens de SC, RJ, MG, DF onde rodam alguns temas que me pedem, no Uruguai, no Chile, no Paraguai e na Argentina também. Isso me instigou a fazer logo meu disco. Eram músicas de triagem e agora melhoramos muito a qualidade para tentar ser mais justo com os que me ouvem.

24.Como lida com o assédio que vem naturalmente como resposta ao trabalho que desenvolve? Como é tua relação com os fãs e com os novos músicos?
Isso é muito fácil, me sinto muito contente por receber este carinho já que é ele que me inspira a seguir compondo e tocando por aí. Sempre que possível trato de convidar e estimular músicos novos a se expor mais. Só lembro que é tênue a linha entre ajudar os novos e manter o nível das apresentações.

25.Viver de música: utopia ou realidade?
É realidade, quantos o fazem e são felizes.

26.Fala um pouco da música instrumental gaúcha e brasileira como um todo? Tua visão sobre como ela é vista e aceita pelo publico. Acredita que a parceria de músicos do RS com músicos do nordeste/norte acrescenta, decrescenta ou é indiferente para a popularidade da música em si e do instrumentista?
O Borghetti e o Yamandú que o digam, eles estão fazendo a parte deles. Costumo dizer que somamos mais que subtraímos e, dentro daquele principio que o meio é o formador do homem e sua cultura, certamente fusões regionais sairão redondas e bonitas. Água mole em pedra dura....

27.Qual é a melhor coisa do ambiente dos palcos, dos festivais, rodeios...?
O companheirismo dos que se garantem, são com quem vale a pena conviver, e não tenho dúvida que são maioria.

28.Como vês a divulgação que é feita das músicas em geral, dos festivais? Rádios, gravadoras?
Gostaria de ver uma distribuição melhor de discos, principalmente de festivais, tenho ouvido seguidas queixas dos que tentam ouvir minha música. Acho que as rádios andam bem, os horários estão cada vez mais importantes, é sinal que a audiência melhora também.

29.Primeiro CD. Fala um pouco dele, das parcerias, gravadora, receptividade do público, como foi a preparação para o lançamento, como foi a festa no Teatro Sete de Abril, e agora com o filho livre para voar já pensa num próximo trabalho?...
Neste momento, fim de abril de 2008 apenas entrou no mercado a gravação e estão nos chamando para apresentações em programas de rádio e televisão. As músicas que escolhi para este primeiro disco são da linha campeira, penso que são mais minhas, quase sempre para cima, alegres. Fizemos uma noite ótima no Theatro Sete de Abril, casa cheia, deu tudo certo apesar de duas ausências inesperadas. Seria maçante enumerar todos que participaram, são amigos e são todos importantes. Caso venha a ser gravado outro disco, acredito que o faremos mais livre, algo campeiro, mas muita coisa festeira.
30.Em linhas gerais como avalia a tua imagem e responsabilidade sendo uma pessoa pública e voz para sentimentos de muitas pessoas?
Pouco penso na imagem física, me preocupa sim o exemplo que posso estar dando, isso inspira cuidado.

31.A ânsia andarilha faz parte desse mundo festivaleiro, que pensas sobre isso... Estar sempre na estrada? Como fica o coração nesse caminho? A família?
O gaúcho por si só tem uma origem errante e despertar este atavismo não dói nada. A família viaja no coração da gente, nunca pede explicação.

32.Acreditas que a música feita hoje sobreviverá à voracidade e volatilidade do mundo de hoje, resistindo e sendo lembrada daqui a algum tempo? Acredita e/ou aposta em alguma composição sua que perdurará longos tempos?
O que é bom perdura, o modismo sem sustentação evapora. Quanto a durar, sei de temas que já estão na boca de muita gente ainda antes de lançar o CD, mas é cedo para afirmar algo conclusivo.

33.Que times torces, comidas, bebidas?
Colorado de coração, mas fora do estado torço por qualquer gaúcho, inclusive o grêmio. Sou um carnívoro e um assado de costela é incomparável. Gosto de bebidas clássicas vinho, cerveja, uísque.

34.O que te faz sentir de alma lavada?
Um trabalho bem feito, prestar uma ajuda na hora certa, um amigo sendo elogiado.

35.O que te faz sentir-se mal?!
Saber que ainda tem quem acredite que só se sobe abaixando os outros, injustiça e mentira.

36.Fala um pouquinho da tua vida fora dos palcos?
Normal, sou engenheiro agrônomo, caseiro e extremamente apegado à família e nossos bichos. Trabalho bastante para poder viver cada vez melhor e agradeço a Deus por ter toda esta sorte.

37.Planos pro futuro?
Agronomicamente, procurar manter-se na ascendente financeira e de realização profissional. Musicalmente prefiro esperar a repercussão do disco. Muita calma nesta hora.

38.Mensagem para as pessoas que admiram seu trabalho?
Espero seguir correspondendo às expectativas e agradeço todo o carinho. Insisto para que se manifestem, assim fica fácil saber onde pisamos e a cobrança é que nos faz crescer. Comprem o disco e leiam o encarte, é tão importante quanto à sonoridade da obra. Tem informação, tem poesia, tem cores e ares que complementam o que se ouve.

39.Sua relação com a internet, msn, orkut, afins e enfins?
Não estando em diligencias de campo, trabalho no computador e sempre conectado. Já não é possível viver à margem disso. Musicalmente tem sido uma ferramenta de inestimável valor, divulgação, informação, contatos e acessos rápidos. A possibilidade é enorme, tem que saber usar.

40.Acreditas na federalização dos estados brasileiros?
Por formação não, mas pode ser um caminho para não precisar sustentar outros.

41.Como vês a relação da música nativista com as rusgas das entidades tradicionalistas?
Acho o MTG como se comporta, um malefício à tradição gaúcha (vide encarte do CD), partindo do princípio que uruguaios e argentinos não são gaúchos, não posso sê-lo, pela língua que canto e pelo sangue que me corre nas veias. Esta arbitrariedade com o certo e o errado só serve para criar polêmica e afastar gente que seria útil à difusão e o enriquecimento da cultura gaúcha. A tradição não é um trilho, é uma estrada ampla que aceita muito mais coisas que um lote de camisas brancas e lenços lisos andando na estrada com as colas dos cavalos juntando barro.

42. Contato pra show?
(53) 8413-9425 ou à noite (53) 32261029
rodrigojacques64@gmail.com

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Otávio Severo

Conheça um pouco melhor um dos letristas da nova geração que vem mostrando seu talento nos palcos dos festivais.
Com vocês Otávio Severo!


1.És natural de onde? Idade?
Dom Pedrito, 22

2.Qual sua relação com o campo, cavalo ?
Tenho ligação forte com o campo. Minha família por parte de mãe e pai tem suas raízes no campo, passei todo minha infância e adolescência em contato direto, onde aprendi muito com meu pai e outras pessoas lá do 2° Distrito de Lavras do Sul. Depois perdi o rastro, saí para estudar fora, hoje estou estudando Agronomia em Pelotas, então fica mais difícil o convívio com o campo. Puxei dos “Severos” a paixão pelo cavalo. Quando morava em Dom Pedrito, passava em função com os cavalos, cuidando para exposição, desfile, etc. Hoje meu irmão tem um centro de doma e treinamento em Eldorado onde de vez em quando apareço.

3.Suas referências e influências de vida (música, literatura, pessoas)?
Minha família, os mestres morais que me ensinaram as reais riquezas da vida. Não tive influência musical dentro da família, me agrada escrever, tenho muita admiração em primeiro lugar aos que me ajudaram e estão ao meu lado, e as referências que tenho na música são: Aureliano de Figueiredo Pinto, Edilberto Teixeira e Lauro Antônio Corrêa Simões. Literatura, Ricardo Guiraldes(mestre). Como disse, as referências que estão em primeiro lugar são as pessoas que conheci e conheço, amigos que tenho e estão sempre perto de mim.

4.Como começaste sua relação com a música, com a composição?

Com 14 anos fui estudar em colégio agrícola em São Vicente do Sul, morava em uma pensão junto com uma gurizada, quando no segundo ano em que estava lá, chegou para estudar e morar na pensão o André Oliveira, então eu o via escrevendo, conversávamos sobre letra e daí peguei a fazer uns versos e mostrava pra ele. Hoje é um grande amigo meu.



5.O que fez com que tivesse certeza de seguir a carreira, o que te fez escolher a música nativista?
O contato com o campo foi o princípio de tudo, comecei a escrever a partir desse fundamento. Não considero pra mim uma carreira, faço uns versos por me sentir feliz fazendo isso, com o tempo fui compreendendo a grandeza e a plenitude dessa arte crioula, e quando a gente entende...não para.

6.O que te incentiva continuar?
O que me incentiva continuar é o nosso chão, nossa gente, nossa história. Saber o que há de bom e saber o que realmente merece ser poesia. E há muita coisa boa e merecedora disso.

7.Como te imaginas daqui a algum tempo dentro cenário musical?
Da mesma forma como estou hoje, e os verso do mesmo estilo.

8.Os sacrifícios que já fizeste pela música?
Já fizemos alguma indiada, passei cada fiasco mestre! Até festival já organizamos, eu e o Luís “loco” Bender, pra ter uma idéia eu era o cantor do “espetáculo” de abertura do festival, os prêmios eram: Uma abóbora de pescoço, um saco de batata, um pelego, etc. Bota gauchada! Tem mil histórias... Nada considero sacrifício, tudo é lindo e vale a pena!

9.Te arrependes de ter feito algo ou não ter feito pela música?
Não.

10.Inspirações para compor?
Meu rincão das Lavra, a gente da fronteira, namorada...

11.Tem alguma música que gostaria de ter feito e não fez, e o que fizeste e tens um carinho especial? Uma marca minha, e melodia do Luís Fernando Bender (loco) e do Rainéri Spohr, chamada “Nas Tardes Lindas da Tarumã”, é um pedaço de mim! E tem tantas que gostaria de ter feito...

12.O que almeja que sua música alcance?
Faço verso porque me agrada e me sinto feliz, e feliz me sinto também quando leio algo que me atinge, algo de verdadeiro e com essência, é isso que almejo pros meus versos.

13.O que tem ouvido mais nos últimos tempos?
Coqui Ortiz, Mercedes Sosa.

14.Show que foste que marcou, ou último q foste - livros que têm lido?
Último que assisti foi do José Cláudio Machado, nunca tinha visto, é um “cerno” o home véio!
Estava lendo pela segunda vez o Don Segundo, que é perfeito, antes tinha lido “Quando Nietzsche Chorou” muito bom também, no momento não estou lendo nada.

15.Como vês a influência da música da região do Prata na música nativista?
A influência boa sempre é bem vinda quando bem aproveitada, a grande autenticidade da música do prata nos reflete o mesmo espírito que temos, essa fusão cultural é importante porque nos traz muito ensinamento pra uma cultura relativamente nova musicalmente comparada a esses lugares.

16.Festivais, primeiro festival composição e parcerias?
Sou tropeiro novo na estrada, a primeira marca em festival estadual foi “Pra estes Pingos de Setembro” do 18° Ponche Verde de Dom Pedrito onde ganhamos música mais popular. Depois tive a felicidade de participar de duas Estâncias de São Gabriel, Aldeia da música, Um Canto para Martin Fierro, Flete da Canção, Campo em Canto, Reponte da Canção e agora Sapecada. No último Ponche Verde tivemos a felicidade de ganhar o 1° lugar com a marca”Nas tardes lindas da Tarumã” e ganhamos ainda melhor poesia, melodia e o Rainéri levo melhor intérprete, tava ajeitado!

17.Como encaras esse meio ao mesmo tempo aberto, democrático, mas também bastante criticado por certa impressão de “panelas” dos festivais?
Acho uma perda de tempo ficar batendo boca com esse assunto. É claro que quem recém pegou a escrever, fazer melodia ou cantar vai custar um pouco a passar num festival, o amadurecimento vem com o tempo, com a paciência, todos passam por essas fases.

18.Fala um pouco da tua experiência nessa trajetória dos festivais? Triagens, premiações, como é se ouvir nas rádios, ter contato com o público que te procurar pra dizer que gosta do que você escreve, como você encara isso?
Estou iniciando, mas já tive a felicidade de ter música em festivais renomados do estado e agora fora do estado. Tive algumas premiações que servem como estímulo, é um reconhecimento, mas o grande prêmio pra mim é ver grandes nomes da música nativista vir elogiar o trabalho da gente, dizendo que ta bom e que é pra seguir nesse rumo, esse é o grande troféu.

19.Vencer o bairrismo é algo que inevitavelmente, acontecerá...ou achas que não existe essa diferenciação de estados?
Acreditas que algum dia a música mais trabalhada (gaúcha/nativista) alcance um respaldo maior dentro do cenário musical brasileiro? Para mim o folclore é como o campo: não evolui, o que evolui é o modo como trabalhamos em cima dele. Esse trabalho que vem sendo enriquecido sem nunca perder a essência pode muito bem alcançar lugares diferentes, podendo sim ser reconhecido em certos lugares no Brasil.

20.O que pensas sobre a realização de festivais fechados, achas que seria possível fazer um festival apenas de música nativista instrumental, que pensas sobre isso?
Seria muito bom ter mostras musicais nativistas instrumentais, precisamos disso, e também precisamos de investimentos culturais que hoje estão tão raros no nosso estado.
Como é a sua relação com os outros músicos de SC e RS? De Santa Catarina não tenho relação. Fizemos muita amizade nesses festivais, e as parcerias vão aumentando, em letra tenho parcerias com o Adriano Alves, Osmar Proença e música o Luís Fernando “loco” Bender, Rainéri Spohr, Marcelo Oliveira, Matheus Leal, Cristian Camargo e André Teixeira. Foram esses com quem passei música até agora.

21.Como é pra ti saber que sua música ganha fronteiras além do RS?
Isso é muito bom, porque aumenta a responsabilidade em melhorar cada vez mais, é um compromisso.

22.Viver de música : utopia ou realidade?
Realidade. Hoje precisamos encarar qualquer ramo profissional como uma empresa, existe a necessidade do investimento próprio, esse investimento vem desde a cultura própria, da essência, da influência, da força de vontade, etc. Quem é bom e souber investir em si próprio com certeza vive da música.

23.Qual é a melhor coisa do ambiente dos palcos, dos festivais, rodeios...?
É estar perto dos amigos, assar carne e tomar trago!

24.Como vês a divulgação que é feita das músicas em geral, dos festivais? Rádios, gravadoras?
Melhorou muito a divulgação das músicas de festivais, o que nos faltava era o reconhecimento dos órgãos públicos e que a RBS fosse mais GAÚCHA.

25.Em linhas gerais como avalia a tua imagem e responsabilidade sendo uma pessoa pública e voz para sentimentos de muitas pessoas?
Ainda é cedo para eu enxergar essas coisas. Mas se alguém conhece algum verso meu e se agradar, eu fico muito feliz.

26.A ânsia andarilha faz parte desse mundo festivaleiro, que pensas sobre isso...estar sempre na estrada? Como fica o coração nesse caminho? A família?
De vez em quando se pega uma estrada, alguma vezes não deu para levar a namorada... daí o bicho pega! Mas se aprende muito com a estrada, eu gosto de viajar, e nunca fico fora por muito tempo.

27.Acreditas que a música feita hoje sobreviverá à voracidade e volatilidade do mundo de hoje, resistindo e sendo lembrada daqui a algum tempo?
O que é verdadeiro se eternizará e será lembrado sempre.
Que times torces, comidas, bebidas? Colorado graças a Deus! A bóia campeira é a melhor, de bebida um bom vinho ou uma canha com butiá! Mas no calorão de tarde uma cerveja é sempre bem-vinda!

28.O que te faz sentir de alma lavada?
A justiça feita e ver que existe muitas pessoas no mundo ainda preocupadas com o futuro.

29.O que te faz sentir-se mal?!
Covardia.

30.És parente da Analise e do Leôncio Severo- sabes a origem desse sobrenome?
O sobrenome Severo é originário da Síria, fez parte de Roma, até imperador de Roma um Severo já foi! O Séptimo Severo, depois veio a Dinastia dos Severos, etc. (eram bocão) hehe. Mas os primeiros Severos que chegaram no Brasil vieram de Portugal e da Espanha, as primeiras cidades que se instalaram foram em Rio Pardo e Dom Pedrito. A grande maioria de Severos fica em Dom Pedrito e Bagé. É uma família só, devemos ser parentes longe sim.

31.Planos pro futuro?
Seguir assim, cercado de amigos, família e feliz.

32.Sua relação com a internet?
Me defendo, mas tenho contato direto com internet.

33.Acreditas na federalização do estados brasileiros?
Seria bom se desse certo, mas não tem como.

34.Como vês a relação da música nativista com as rusgas das entidades tradicionalistas ?
Acho que cada um deve cuidar dos seus ideais e no que acredita, não é necessário atacar ninguém para ganhar vantagem. Com o passar do tempo as coisas que realmente tem essência ficarão.

35.Bueno este ano em especial estas concorrendo com duas composições na Sapecada da Canção, fala pra nós um pouco das obras, tua expectativa pro festival, se já conheces algo em SC, e como te sentiste quando soube que elas haviam passado na triagem?
Bah, fiquei muito feliz! Primeiro o Zé Daudt tinha me avisado por msn que eu tinha passado uma, já estava loco de facero, depois o Juliano Moreno me avisou de outra, só completou a felicidade! É um grande estímulo passar em triagem, ainda mais duas e na Sapecada que é um festival que sempre tive vontade de conhecer.
A música Sacrificado, fiz para o meu pai, é subjetiva à isso. E a Cruz e a Tapera, retrata uma tapera que existe lá fora, no 2° de Lavras. Agora estou só na espera pelo festival!

36.Falando em triagem, o que achas da triagem aberta?
Com certeza só tem a ganhar fazer uma triagem transparente como foi na Sapecada, alguns festivais poderiam fazer o mesmo, acabaria com a discordância sobre as músicas.


Abração a todos e Mil Gracias pela oportunidade!
Otávio Severo
Fev. 2008

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Volmir Coelho

Colaboração de Jonas Ricardo Ribeiro Alves
Bueno só para pontuar, por motivos externos e alheios a minha vontade, está entrevista foi feita em maio passado mas somente agora publicada. Agradeço a paciência por aguardarem a publicação e espero que agora em diante tudo seja bem melhor, 2008 promete ser o ano!
:) Gracias!

01) És natural de onde? Idade?

Natural de Santana do Livramento, 40 anos.

02) Qual sua relação com o campo, cavalo, com a fronteira(região do prata), ainda vivência isso hoje ?

Sou nascido na campanha, criado nela, vim para a cidade para estudar, após sentar praça no quartel, voltei para o campo, no Quinto distrito do Carcávio em Santana do Livramento, onde trabalhei de peão de estância, fazendo todo o serviço de campo, menos doma e esquila, trabalhei como alambrador, e peão de tropa. Minha relação com a fronteira e a melhor possível, pois sou cria dela. Hoje já faz cinco anos que moro na cidade, mas não perdi minha relação com o campo.


03) Suas referências e influências de vida (música, literatura, pessoas)?

Minhas influências musicais são o Cenair Maica, Noel Guarani, Jorge Cafrune, Horácio Guarani. Na litaratura El Gaúcho Martin Fierro.

04) Como começaste sua relação com a música, com a composição?

Comecei a tocar com meu pai, ele foi meu professor aos11 anos de idade, aos 19 anos, fiz minha primeira composição foi “Manhã, mate e Recuerdos”, participei da primeira Penca da Música Nativista não Profissional em Santana do Livramento.

05) O que fez com que tivesse certeza de seguir musicando, o que te fez escolher a música nativista?

Continuei na música para cantar as coisas da nossa terra, escolhi a musica nativista pelas minhas influencias.

06) O que te incentiva continuar?

O que me incentiva em continuar é ver que o trabalho da gente passa uma mensagem boa para o público, saber que eles conseguem absorver algo de nosso trabalho, ao contrário de muitos que querem por guampa em cabeça de cavalo, achando que estão cantando e verdade da nossa cultura.

07) Os sacrifícios que já fizeste pela música?

São tantos...deixar a família em casa, me separar do campo, contar os trocados no bolso que as vezes mal dava para retornar pra casa.

08) Te arrependes de ter feito algo ou não ter feito pela música?

Não me arrependo de nada do que fiz ou deixei de fazer...

09) Inspirações para compor, parcerias do início da carreira e estas agora?

A Sensibilidade de perceber muitas coisas, entre elas a indiferença, a fome, e a exploração e a dor do campo.

10) Tem alguma letra que gostaria de ter feito e não fez, e o que fizeste e tens um carinho especial?

Admiro “O Loco” de Cenair Maica, gostaria de ter feito algo parecido... das que eu fiz tenho um carinho especial por Cativos, que fala sobre a violência em que vivemos em nosso pais. Nós estamos presos, com grades em volta e os marginais estão soltos.

11) O que almeja que seus versos alcancem?

A sensibilidade dos injustos.


12) O que tem ouvido mais nos últimos tempos?

Jorge Cafrune (Yupanqui por Cafrune), Mercedes Sosa, Zé Ramalho, Horácio Guarani

13) Show que foste - livros que têm lido?

Jairo Lambari Fernandes, livros, Sobre a Luz das Velas do Martin César Gonçalves; “Operação cavalo de Tróia”- JUAN JOSE BENITEZ.

14) Como vês a influência da música da região do Prata na música nativista, em especial Livramento/Rivera, como a música daí se reflete em todo o estado do RS e fora dele?

A maior influência está nos ritmos, mas nós da fronteira temos o privilégio de estar próximo a esta cultura.

15) Festivais, primeiro festival composição e parceria?

Primeiro Festival foi “Serra e Fronteira’ em Cacequi , a composição “Ofício de Ginete”, letra e música minha. Primeiro festival que eu fui e a minha música mais premiada, 1º lugar, mais popular, melhor letra, arranjo, e melhor instrumentista.

16) Como encaras esse meio ao mesmo tempo aberto, democrático, mas também bastante criticado por certa impressão de “panelas” dos festivais? Como vês o rumo que as coisas tomaram hoje em dia, tua participação no Um Canto para Martin Fierro.

Eu encaro na verdade como um corredor cheio de pedras, que hay que saber anda-lo. Não sei se existe panela, porque nunca participei dela, se é que existe...
A minha participação no Martin Fierro foi algo que ficara marcado para sempre em minha vida, por que os momentos bons como aquele nunca se esquece, ainda mais na terra da gente.

17) Fala um pouco da tua experiência nessa trajetória dos festivais? Triagens, premiações?

Participo dos festivais há 15 anos por ai, mas efetivamente há 5 anos, quando vim para cidade, fui jurado em alguns festivais como Reculuta, Gauderiada. Fui premiado na Reculuta, Reponte, Gauderiada, Minuano, Um Canto para Martin Fierro, Tropeada do Canto e do Verso Sulino, Serra e Fronteira.

18) Vencer o bairrismo é algo que inevitavelmente, acontecerá...ou achas que não existe essa diferenciação de estados? Acreditas que algum dia a música mais trabalhada (gaúcha/nativista) alcance um respaldo maior dentro do cenário musical brasileiro?

Acredito que a música tendo boa qualidade, não existe barreira.

19) Como lida com as críticas, e ao mesmo tempo ser espelho para outros autores?

Encaro a crítica como uma maneira de crescimento no geral, não só na música .Não sei se sirvo de espelho para outros.

20) Como é a sua relação com os outros músicos de SC e RS?

Respeito todos eles, porque somos todos aves do mesmo bando.

21) Como é pra ti saber que os seus ganham fronteiras além do RS?

É muito bom, alguém tem que abrir a porteira para outros cruzarem.

22) Como lida com o assédio que vem naturalmente como resposta ao trabalho que desenvolve? Como é tua relação com os fãs e com os novos músicos? Como vês o futuro da nossa cultura, atuação dos jovens nativistas nesse resgate e perpetuação da tradição e a tua relação com as crianças (o que sente quando as ouve cantar a tua música)?

Quanto ao assédio me engrandece saber que pessoas admiram meu trabalho, tenho muita admiração e respeito pelo trabalho dos novos músicos. Só em saber que vem novos músicos com talento, é a prova de que nossa cultura não morrerá.
Me sensibiliza muito quando se trata de crianças porque elas são verdadeiras, quando as vejo cantarem desmorono por dentro de alegria.

23) Viver de música : utopia ou realidade?

Realidade, temos que acreditar que somos capazes.

25)Como pretendes seguir com a tua carreira, planos pra sair de Livramento?

Buscando sempre aprimorar mais meus trabalhos, quanto a sair de Livramento é algo que vai acontecer naturalmente.

26) Qual é a melhor coisa do ambiente dos palcos, dos festivais, rodeios...?

Amizades que a gente faz, e sentir o carinho e reconhecimento do público com o nosso trabalho.

27) Como vês a divulgação que é feita das músicas em geral, dos festivais? Rádios, gravadoras?

É boa, mas certos festivais ficam muito regionalizados com trabalhos belíssimos em suas edições. Quanto às rádios precisamos delas, pois são elas que lançam o artista.

28) Em linhas gerais como avalia a tua imagem e responsabilidade sendo uma pessoa pública e voz para sentimentos de muitas pessoas?

Quanto a minha imagem sou “loco de feio”...rsrsrsrsrs...mas aprendi não olhar por fora, mas sim o interior do ser humano. Tem pessoas que tem a ânsia de falar e não conseguem e quando escutam o interprete é como se elas mesmas estivessem falando.

29) A ânsia andarilha faz parte desse mundo festivaleiro/artístico , que pensas sobre isso...estar sempre na estrada? Como fica o coração nesse caminho? A família? (Se vais aos festivais, assisti, acompanha-os?)

Sempre gostei da estrada...pois muito se aprende nela. Bate saudade da família, mas o melhor e saber quando se volta alguém nos espera.

30) Acreditas que a música feita hoje sobreviverá à voracidade e volatilidade do mundo de hoje, resistindo e sendo lembrada daqui a algum tempo?

Só o tempo pode te responder...

31) Vais lançar seu primeiro trabalho em CD “DE CAMPO E RAIZ” fala um pouco desse trabalho para nós, composições, parcerias, sairá por gravadora, texto de apresentação?

É o meu primeiro filho...são todas as composições de minha autoria, letras e músicas, foi feito de forma independente, acabei de receber o Cd há dois dias...é um sonho concretizado, saber que o trabalho da gente será ouvido por tantos é algo maravilhoso. Agradeço ao cumpadre e amigo Róbson Garcia, guitarreiro, Zeca Alves (cajon) e a participação especial Aluísio Rockembach (acordeon), os textos são do Zeca Alves, Martin César Gonçalves, Carlinhos Fernandes e Jonas Ribeiro.
Gostaria de fazer um agradecimento especial para meu irmão Gaspar Silva e Cleney Ribeiro, que junto com o Carlinhos Fernandes tornaram este sonho possível, e a minha família, esposa e filhos.

32] Como foi a escolha do repertório? e como foi escolhida e por que a música título do CD?

Eu fui o que menos opinei no repertório, trouxe um pronto para iniciarmos a gravação na segunda-feira, e no domingo a tarde comendo um churrasco junto com o Robson Garcia, Zeca Alves, Jonas e Rita trocamos mais da metade dele...rsrsrsrsrsrsrs.”De Campo e Raiz” por que primeiramente todos nós temos algo “De Campo” embora morando na cidade, e “Raiz” é algo que não perdemos jamais...acho que irão me entender...

33) Acredita numa maior autonomia dos Estados, o sul independente? Como vês a posição das pessoas no sul em relação a política social/econômica diante do país? Mercosul algo que realmente existe?

Sou contra o separatismo...o sul faz parte do universo também, mesmo tendo muita influência da região do prata, somos brasileiros por opção..brigamos por isto. Mercosul existe só no nome.

34)Fala um pouco de Livramento, tua relação com esse chão, a fronteira, o campo...ela dentro do estado do RS?

Tenho uma composição minha que te responde esta pergunta...Santa Santana, que fala assim...
“ser de Santana é mais que ser um fronteiro, é um privilégio parceiro, ser do sul desta nação...”


35) Que times torces, comidas, bebidas?

Sou colorado, Campeão do mundo...Arroz branco, carne frita com molho e feijão...de preferência com um pouco de álcool...rsrsrsrsrsrsrs....

36) O que te faz sentir de alma lavada?

A sinceridade! E o sorriso das minhas filhas Volmaris, Bibiana e Juliana, do meu segmento, Pedro e do amor da minha esposa, Estela Maris.

37) O que te faz sentir-se mal?!

Falsidade...e o mal trato de crianças.

38) Fala um pouquinho da tua vida fora dos palcos?

Normal..gosto de ir pra campanha quando possível.

39) Planos pro futuro?

Só Ele (Deus) responderá...

40) Mensagem para as pessoas que admiram seu trabalho?

A mensagem que deixo é que nunca deixem apodrecer a raiz da nossa cultura.

41) Sua relação com a internet?

Sou “bocão” num rádio AM...rsrsrsrsrs..não tenho relação direta, fico sabendo através de amigos.


42) Contato pra show?
Contatos pelos fones: (51)9929.0115,
.(53)3303.1830 / 9126.8488